quarta-feira, 18 de maio de 2016

[NO PAÍS DOS SONHOS] Concerto para Piano Nº3 , Prokofiev

Ofegante corria como um louco, até ao portal da casa. Teve de parar, a respiração faltava-lhe. Foi nesse preciso momento que a porta da datcha se abriu e apareceu Nadja, resplandecente na glória os seus dezassete anos. Vestia uma camisa de cores variadas, saia castanha e tinha o cabelo mal apanhado num carrapito, caíam-lhe madeixas pelos ombros. Seu cabelo loiro acobreado enquadrava um rosto muito oval, com lábios desenhando um sorriso discreto, a maior parte do tempo, quando escutava aquele estroina: Inclinava ligeiramente a cabeça, como que para melhor adivinhar o que ia sair dessa cabeça oca e seus olhos cintilavam ou tornavam-se nevoentos, consoante o seu estado de alma. Como se toda a expressão do rosto se concentrasse nos olhos.
Não havia nada de especial naquele relacionamento. Ou melhor, tudo era especial. O jovem e a jovem tinham um pacto não dito de total entrega espiritual e total castidade corporal. Como é isso possível em jovens saudáveis e sem preconceitos? Impossível de explicar. O facto é que ambos se sentiam muito à vontade nessa situação de «não namoro» e nada poderia mudar a disposição dos dois, por mais que as famílias respetivas e os amigos achassem que as coisas não iriam permanecer nesse pé.
Este Verão seria o último, mas eles não suspeitavam de nada. Abraçaram-se e olharam-se nos olhos. Depois, com um sorriso muito terno, Victor poisou um beijo na fronte de Nadja.
Esta desprendeu-se logo do seu abraço, tomou-lhe a mão e arrastou-o numa corrida através do salão, atravessando a porta sempre aberta da cozinha e mostrou-lhe …
 - «Olha! Sua ninhada de oito gatinhos»…
 A gata siamesa estava deitada na alcofa e lambia a cabeça e dorso de um dos gatinhos, numa toilete interminável de mãe-gata.
…...
[não sei como foi a seguir… nada! Apenas me lembro de ter acordado deste sonho com uma opressão no peito, como se algo de terrível tivesse ocorrido. Não sei o quê…]



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