From Comment section in https://www.moonofalabama.org/2024/03/deterrence-by-savagery.html#more

The savagery is a losing card. By playing it the US and the West are undercutting every ideological, normative and institutional modality of legitimacy and influence. It is a sign that they couldn't even win militarily, as Hamas, Ansarallah and Hezbollah have won by surviving and waging strategies of denial and guerilla warfare. Israeli objectives have not been realized, and the US looks more isolated and extreme than ever. It won't be forgotten and there are now alternatives.

sábado, 14 de maio de 2016

[NO PAÍS DOS SONHOS] Salmo Primeiro



SONHO 4:               Salmo Primeiro, Coro de monges do mosteiro de Optina (Rússia)



Eles aqueciam-se como podiam ao calor da fogueira. Estavam no meio da estepe gelada. Outros fogos tremeluzentes se viam por todo o horizonte. Irkutz estava a onze vestras. O acampamento fora ordenado ao cair da noite. Em Setembro já mordia o frio do outono. De vez em quando, ao longe, ouvia-se o tropel dos cascos da cavalaria, que passava perto do nosso acampamento. Ouviam-se também vozes em surdina, dos soldados do regimento de infantaria nº16, em torno da fogueira. Nunca mais se calavam; falavam de tudo e de nada. Rompido de cansaço, acabei por adormecer. Um suave calor bafejava-me o rosto.
Não sei se foi sonho ou foi realidade; não sei se ela se deslocou por artes mágicas até ao acampamento ou se sempre lá estivera:
- O que sei é que o seu rosto estava lá, no meio dos meus companheiros de armas. Aquele rosto trigueiro e oval, com olhos de faiança e cabelos de seda. Vestia com modéstia, mas o seu porte era de uma princesa. Sua doçura e espontânea bonomia derretiam-nos a todos. Ninguém era insensível à beleza, no meio de tanta  fealdade.
Vi o seu vulto levantar-se da roda da fogueira, com um movimento ondulante e flexível, erguendo-se no meio dos meus companheiros. Logo começou a entoar uma prece. Ela dizia o verso e o coro de homens respondia-lhe. As vozes entoavam os salmos num uníssono perfeito, tanto as dos velhos e ressequidos sargentos, como as dos jovens quase imberbes.
Tal era a perfeição, que me pareceu um encanto; era como se nada tivessem feito na vida, senão cantar a salmódia. Os versos eram espaçados por pausas. Nestas, o crepitar do fogo fazia-se ouvir. Maria estava no meio de todos nós, seus familiares, vizinhos, amigos.
Não havia ninguém que não conhecesse Maria; não havia soldado que ela ignorasse, a todos cumprimentava pelo patrónimo. Numa ocasião, vira como ela tratava de um ferido que tremia de febre - já nem conseguia segurar a colher ou a malga.
Senti-me feliz como nunca, nessa noite! Sabia que estava sob proteção dum anjo enviado pelo Senhor. Nem a morte eu temia!
Desde então, trilhei os caminhos da luz e da bondade, seguindo a Palavra, que ressoava na voz do povo.
Se foi sonho ou realidade, não sei. Para mim, isso é indiferente, pois a vida mudou-se totalmente a partir dessa noite.
Tive de sofrer muito; vi horrores, tive medo, frio, fome, fui ferido, bati o dente de febre, corri como um coelho diante da metralha. Esporei desesperadamente cavalos e cruzei ferro com inimigos ferozes, tão desesperados como eu. Percorri milhares de vestras em países distantes, sob climas tórridos ou gélidos. Sou o que sou, sem dúvida. Mas não tenho a arrogância de me considerar mestre de meu destino. A minha vida foi igual à de muitos homens, tão bons ou tão maus quanto eu. No entanto, sinto-me diferente. Tornei-me outro, a partir da noite da visão acima descrita. A simples evocação dessa noite, enche-me de suave júbilo. Iluminou vários momentos e episódios da minha jornada.  
Meu último desejo é somente que alguém transcreva estas palavras. Ámen.

[Alexei transcreveu, 17 de Outubro, Ano da Graça de 1842]

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