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terça-feira, 17 de setembro de 2019

HONG KONG, REGRESSA O TRATADO DE NANQUIM - POR MANLIO DINUCCI

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A Arte da Guerra
Hong Kong - regressa o "Tratado de Nanquim"
Manlio Dinucci
Centenas de jovens chineses, em frente ao Consulado Britânico, em Hong Kong, cantam “Deus Salve a Rainha” e gritam “Grã-Bretanha, salva Hong Kong”, apelo reunido em Londres por 130 parlamentares, que pedem para dar a cidadania britânica aos moradores da antiga colónia. Assim, a Grã-Bretanha é apresentada à opinião pública mundial, especialmente aos jovens, como garantia da legalidade e dos direitos humanos. Para fazê-lo, elimina-se a História. Portanto, é necessário, antes de outras considerações, o conhecimento dos acontecimentos históricos que, na primeira metade do século XIX, conduzem o território chinês de Hong Kong ao domínio britânico
Para penetrar na China, então governada pela dinastia Qing, a Grã-Bretanha recorreu à venda de ópio, que transporta por via marítima da Índia, onde detém o monopólio. O mercado de drogas espalha-se rapidamente no país, provocando graves danos económicos, físicos, morais e sociais que suscitam a reacção das autoridades chinesas. Mas quando elas confiscam, em Cantão, o ópio armazenado e o queimam, as tropas britânicas ocupam,  com a primeira Guerra do Ópio, esta e outras cidades costeiras, constrangendo a China a assinar, em 1842, o Tratado de Nanquim.
No artigo 3 estabelece: “Como é obviamente necessário e desejável que os súbditos britânicos disponham de portos para os seus navios e para os seus armazéns, a China cede para sempre a ilha de Hong Kong a Sua Majestade, a Rainha da Grã-Bretanha e aos seus herdeiros".
No artigo 6 o Tratado estabelece: “Como o Governo de Sua Majestade Britânica foi forçado a enviar um corpo de expedição para obter uma indemnização pelos danos causados pelo procedimento violento e injusto das autoridades chinesas, a China concorda em pagar a sua Majestade Britânica, a quantia de 12 milhões de dólares pelas despesas envolvidas”.
O Tratado de Naquim é o primeiro dos tratados desiguais através dos quais as potências europeias (Grã-Bretanha, Alemanha, França, Bélgica, Áustria e Itália), a Rússia czarista, o Japão e os Estados Unidos asseguram na China, pela força das armas, uma série de privilégios: a transferência de Hong Kong para a Grã-Bretanha, em 1843, a forte redução de impostos sobre mercadorias estrangeiras (assim como os governos europeus estabeleceram barreiras alfandegárias para proteger as suas indústrias), a abertura dos portos principais a navios estrangeiros e o direito de ter áreas urbanas sob a sua administração (as “concessões”) subtraídas à autoridade chinesa.
Em 1898, a Grã-Bretanha anexou a Hong Kong, a península de Kowloon e os designados New Territories (Novos Territórios), concedidos pela China “por aluguer”, durante 99 anos. O descontentamento generalizado sobre estas imposições fez explodir uma revolta popular, no final do século XIX – a Revolta dos Boxers - contra a qual interveio um corpo expedicionário internacional de 16 mil homens sob comando britânico, no qual a Itália também participou.
Desembarcou em Tianjin, em Agosto de 1900, saqueia Pequim e outras cidades, destruindo numerosas aldeias e massacrando a população. Posteriormente, a Grã-Bretanha assume o controlo do Tibete, em 1903, enquanto a Rússia czarista e o Japão dividiram a Manchúria, em 1907.
Na China reduzida a condições coloniais e semi-coloniais, Hong Kong torna-se o principal porto de comércio baseado na pilhagem dos recursos e na exploração esclavagista da população. Uma massa enorme de chineses é forçada a emigrar, sobretudo para os Estados Unidos, Austrália e Sudeste Asiático, onde é coagida a condições semelhantes de exploração e discriminação.
Surge, espontaneamente, uma pergunta: em que livros de História estudam os jovens que pedem à Grã-Bretanha para “salvar Hong Kong”?

ilmanifesto, 17 de Setembro de 2019

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

UMA «UNIÃO» EUROPEIA EM DESAGREGAÇÃO

A imagem que me ocorre quando reflicto nos processos que se verificam actualmente na União Europeia, é a de arribas ou falésias, em que as bases são escavadas pelo mar, as fissuras no calcário das arribas vão-se alargando e - de tempos a tempos - um enorme bloco deixa de ser capaz de se sustentar e cai ao mar ou na orla costeira. 

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Aqui, na minha analogia, os blocos representam nações: no estádio mais avançado da desagregação está a Grã Bretanha e seu doloroso e incerto «brexit». 
Mas o processo de fragmentação existe também a Leste, com o grupo de países (Polónia, Hungria, República Checa, Eslováquia) que recusa a política de migração imposta pelos poderes dominantes da UE. 
Outro grupo problemático é o dos países com défices e dívidas públicas excessivos. Estes incluem vários países do Sul: Grécia, Itália, Espanha e Portugal. 
Nestes países, a crise do tecido económico com desemprego de massa, resultante da austeridade imposta desde Bruxelas, engendrou uma profunda crise social. 
A Itália tem um governo, resultante de uma coligação heterogénea, mas que está decidido a fazer frente às exigências de um «Euro-grupo», dos comissários e doutros burocratas que, afinal, não representam senão a vontade da oligarquia instalada na mecânica eurocrática.  
Tudo se conjuga, neste dia 29 de Outubro, para que a Itália veja rejeitado o seu orçamento pelos todo-poderosos comissários da UE. 
Porém, ao contrário do que certa imprensa propala, papagueando o discurso dos eurocratas em Bruxelas ou de quem os apoia ao nível local, a Itália tem boas razões para manter tal orçamento, moderadamente expansionista, num contexto em que a crise social, iniciada com a grande recessão de 2008, permanece - 10% de desemprego - gerando ou aprofundando fenómenos inquietantes como racismo, xenofobia, etc. 
O rigor contra Itália explica-se como uma espécie de retaliação pelo facto do seu governo não aceitar as políticas migratórias instituídas pelos poderes centrais. 
Com efeito, o seu orçamento com um défice de 2,4% apresenta uns 0,4% acima do que os comissários de Bruxelas achavam sustentável, porque a dívida pública italiana excede 132 % do PIB. Mas, por outro lado, um orçamento moderadamente expansionista é necessário para desencadear um maior consumo nas camadas que foram mais afectadas pelos dez anos de depressão que atravessamos. 
Se houvesse um mínimo de boa vontade, não iriam ser colocados demasiados obstáculos à Itália, até porque o seu governo tem uma legitimidade muito maior do que os senhores de Bruxelas. 
Mas, aqui joga-se um jogo que visa intimidar, dar o exemplo: «se te portas mal, olha o que te acontece». O comportamento da UE em relação à Grécia, em 2010-2014, seguiu este padrão. 
O que se está a passar com o «brexit» igualmente, embora as responsabilidades do péssimo governo de Theresa May também sejam enormes. 
A média económica põe em realce a subida dos juros das obrigações soberanas italianas: porém, deveria também realçar o facto de que as obrigações soberanas (a dívida emitida pelos estados) de todos os países do sul foram compradas sistematicamente pelo BCE, durante mais de 6 anos (2012 -2018) e distorceram o mercado da dívida destes países, até valores de juros irrisórios, totalmente artificiais. 

Creio que a miopia da eurocracia no poder vai arrastar a Itália para a ruptura. Mas a Itália tem muitos trunfos; tem potencial na indústria, no comércio, no turismo. Terá, com certeza, muitos parceiros económicos (dentro e fora da Europa) com os quais poderá estabelecer acordos mutuamente vantajosos.   

domingo, 25 de março de 2018

DO MOVIMENTO «#ME TOO» À RUSSO-FOBIA INSTITUCIONAL

Creio que ninguém que me conhece suspeita sequer que sinto a mínima simpatia por predadores sexuais. No entanto, a campanha que foi - há uns meses - erguida por feministas radicais do outro lado do Atlântico, a partir do desmascarar de Harvey Weinstein e outros empresários de Hollywood, transbordou muito rapidamente as marcas, tornando-se uma nova versão de «caça às bruxas/os». 
Porventura, muitas mulheres foram efectivamente vítimas de abusos sexuais diversos. Mas igualmente o arrastar na lama de muitos homens, sem outra evidência para serem considerados uns «predadores sexuais» que as alegações (verdadeiras ou falsas, mas não provadas) das supostas vítimas... fez muito mais mal, quer à justiça em geral, visto que muitos homens inocentes viram as suas vidas destroçadas, quer à causa do verdadeiro feminismo: portador dos valores da igualdade de direitos e de dignidade entre géneros, não dum histerismo em considerar a priori qualquer homem heterossexual como um potencial suspeito de crime hediondo!
A responsabilidade cabe também à  imprensa «tablóide» e a toda ela afinal, pois já não conseguimos distinguir qualquer ética e exigência de rigor nos títulos que tinham reputação de sérios. 
A média foi amplificando este movimento, seguindo o seu princípio de que «quanto mais escandaloso, melhor». Quanto aos acusados dos tais actos sexuais, por vezes de há vinte ou trinta anos, eles que «se defendam». 
O que significou que o chamado «ónus da prova» foi deslocado do acusador para o acusado. O acusado, ao ter de se defender de um alegado crime na praça pública, acaba por adensar as suspeitas em relação à sua inocência. Os que sofrem estas difamações são irreversivelmente destruídos, em termos de imagem pública, de relacionamento familiar, de carreira profissional. As acusadoras têm praticamente garantida a impunidade, não sendo possível, na prática, demonstrar que as suas acusações foram apenas uma perversa mentira, destinada a  atingir alguém que se odeia.
A inversão do dever de prova está agora perigosamente a ocorrer entre Estados, nomeadamente com o governo britânico a exigir à Rússia que esta faça «prova» de que nada tem a ver com uma tentativa de assassinato de dois cidadãos russos, em solo britânico, para logo decretar que o governo russo é culpado, agitando uma série de sanções, diplomáticas e económicas, exigindo que os aliados da Grã-Bretanha se guiem pela mesma bitola.
Aqui também, a ampliação mediática da histeria governamental tem um efeito de ampliação e reforço da convicção no público: para pessoas assustadas, desinformadas e sujeitas a propaganda, os russos são «evidentemente» os responsáveis, não havendo argumentação sensata e equilibrada, que queiram ouvir. 
O público, tal como no caso das denúncias contra alegados «predadores sexuais», aceita tudo como «verdade inquestionável», apenas por as autoridades governamentais afirmarem a sua «convicção» sem provas, seguida no imediato de sanções.

Tristemente, tenho de dar plena razão a Voltaire («difamem, difamem, ficará sempre qualquer coisa»),  mas não significa que esteja conformado com a ditadura de tipo orwelliano que se vem instalando nas chamadas «democracias ocidentais». 
Significa que tenho de assumir que muitas pessoas são tão manipuladas, alienadas, que já nem têm consciência disso. Não sou inteiramente pessimista, porque sei que existem pessoas que conservam o seu espírito crítico no meio destes ventos de histeria colectiva. 
Uma notícia, ao ser veiculada por algum órgão de comunicação ou opinião com o qual temos simpatia, não nos deve impedir de exigir que esse mesmo órgão seja rigoroso e dê provas do que afirma, mormente se são acusações graves, com consequências muito para além dos factos em si mesmo.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

AFEGANISTÃO: CEMITÉRIO DE IMPÉRIOS

Desde o império de Alexandre da Macedónia, passando pelo império Britânico no século XIX,  pela União Soviética nos finais do século passado, até ao império dos EUA de hoje, o Afeganistão tem sido  (com muitos milhares de mortos em vão!) literalmente o cemitério de exércitos poderosos, mas igualmente, o cemitério no sentido metafórico de perda completa de ilusões imperialistas de grandeza, finalmente desfeitas em cacos, sem honra nem glória.


Por que razão quase não se fala desta guerra perdida, teimosamente mantida durante 16 anos... até hoje, contra toda a racionalidade?
- Será para ocultar a «perda de face» do Estado profundo, que controla o Pentágono, a CIA e todos os políticos de Washington, incluindo os presidentes...

sábado, 30 de setembro de 2017

REFLECTINDO SOBRE O NACIONALISMO

Catalunha, País Basco, Escócia, Flandres, etc... São frequentes nos últimos anos os casos de nações europeias, incluídas à força dentro das fronteiras de um estado, que tentam separar-se do estado, obtendo a independência por meios democráticos. 

                                  Foto de Pepe Escobar.

Porém, a arquitetura da Europa da UE não é nada favorável, com a sua rigidez, com as suas burocracias meticulosamente repartidas entre seus estados-membros, com os seus tratados que têm como um dos principais aspetos a manutenção do status quo. Vemos a difícil separação da Grã Bretanha da UE, o famoso «Brexit». Estes movimentos centrífugos e de recusa do ultra-centralismo, quer seja ao nível de estados-nações, quer ao nível de super-estado (U.E.), têm sido mais vigorosamente expressos nas nações cujo território encerra indústrias ou recursos naturais que permitiriam uma economia viável, fora do conjunto nacional no qual se encontram incluídas. 
Noutros pontos do globo, como nas zonas habitadas por curdos da Síria, Iraque (com potencial para se alargarem para partes do território Turco e Iraniano), verificamos tentativas de avanço para maior autonomia no caso da Síria e para uma completa independência (Curdos iraquianos).  Os traçados de fronteiras artificiais resultantes da 1ª guerra mundial e do desmoronar do império otomano, são responsáveis pela situação, mas também o próprio princípio centralista dos Estados, concentrando ao máximo o poder político, administrativo e económico.
As proclamações da ONU sobre os direitos dos povos à autodeterminação e independência, que foram um importante  apoio à luta e ao triunfo dos movimentos independentistas anti-coloniais, implicava também uma aceitação tácita das fronteiras arbitrariamente desenhadas pelos vários colonizadores. Esta situação fez com que - em África - não existe (que eu saiba) nenhum estado, presentemente, cuja população seja etnicamente homogénea, longe disso. Há zonas de povoamento de etnias cortadas por fronteiras entre estados; há etnias que são muito hostis uma em relação à outra e - no entanto - são obrigadas a coexistirem dentro do mesmo estado, a viverem sob o mesmo governo. 
Os estados e organizações supra-estatais de âmbito regional (como a UE) ou internacional (como a ONU) são totalmente incapazes de se auto-reformarem de modo a que seja mais fácil e natural a separação de povos que vivem dentro de suas fronteiras nacionais. 
O federalismo, como era entendido pela República espanhola , tinha permitido uma larga autonomia das nações que a constituíam.  Os princípios federativos da URSS (embora a prática fosse coisa totalmente distinta) também permitiam uma larga autonomia e a independência, em princípio.
O federalismo de Proudhon e de Bakunin foi largamente inserido nos princípios da 1ª Internacional, que a 2ª Internacional (dos partidos social-democratas e socialistas) herdou. É porém notável verificar-se que os herdeiros (nominais) de tais organizações - como o PSOE - têm uma posição claramente centralista.
Os processos de desagregação dos estados europeus, ou de outras paragens, é sintoma de senescência destas estruturas. Porém, sua decadência pode durar vários séculos.
Estou convencido que a esclerose dos estados vai de par com um maior autoritarismo, o que equivale - na prática - a maior centralização. Nunca se viu uma deriva autoritária de um poder, que não fosse centralizadora. 
Pelo contrário, a descentralização verdadeira, ou seja, a aplicação dum federalismo autêntico, faz com que as uniões entre várias entidades acabam por ser mais sólidas e duradoiras porque não se revestem do odioso duma etnia a oprimir outra, ou outras. 

terça-feira, 9 de maio de 2017

CONCERTO PARA ÓRGÃO DE HAENDEL



Para mim, este concerto em sol menor Op. 4/1 HWV 289, tem sido um dos concertos mais inspiradores do genial Haendel. 


As pessoas que associam o órgão clássico exclusivamente às funções e ofícios religiosos, ignoram que também foi instrumento de corte - dançava-se nas cortes ao som de pequenos órgãos ditos «positivos» - ou do teatro. 
No caso dos concertos para órgão de Haendel, o seu propósito incial era de entreter o público durante os longos intervalos das suas óperas. 
Haendel foi um músico genial e - tal como Vivaldi - foi empresário de teatro, tendo ficado quase falido devido a uma cabala dos aristocratas. 
Não se sabe muito bem quais foram os motivos dessa hostilidade; talvez tenham temido um excesso de influência do músico saxão na corte do rei da dinastia de Hanover. 
Porém, hoje Haendel é considerado tão inglês como muitos outros. A música nas Ilhas Britânicas não seria a mesma sem Haendel. Elevou a música instrumental e vocal a níveis nunca antes atingidos, no Reino Unido.