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quarta-feira, 22 de novembro de 2017

GUERRA NUCLEAR POR ACIDENTE?


                                

A escalada de tensões entre potências nucleares, levada a cabo, essencialmente, pelos Estados Unidos, com a cumplicidade ou -pelo menos- a complacência dos seus aliados na NATO, é propriamente uma política suicida. 
A prová-lo estão numerosos relatórios, alguns dos quais vindos da Grã-Bretanha, fiel aliada dos EUA, que mostram que uma guerra nuclear, mesmo entre potências secundárias como o Paquistão e a Índia, causaria milhões de mortos diretos e indiretos, estes últimos por rutura dos recursos alimentares em consequência do arrefecimento brusco causado pela emissão de grande quantidade de partículas, que ficariam em suspensão na atmosfera interferindo com a luz solar (inverno nuclear). Claro que num cenário entre os EUA e a Rússia, ou entre os EUA e a China, os resultados ainda seriam mais catastróficos.
A proliferação de armamento nuclear, veja-se o caso mais recente da Coreia do Norte, é decorrente da atitude de bullying de uma super-potência, neste caso os EUA, que estão constantemente a ameaçar (e/ou efetivar) com agressão militar os Estados que não se conformem com a sua hegemonia.
Esta política dá efectivamente alento para estes países, decretados «Estados párias», se munirem da arma nuclear, pois ela funciona como salvaguarda ou dissuasora contra as ambições imperialistas. 
Porém, abandonou-se a política oficial de tentar uma redução e progressiva eliminação de armas nucleares, que foi a doutrina oficial, da ex-URSS e dos EUA, nos anos setenta e oitenta do século passado. Esta doutrina e os tratados de redução de armamentos estratégicos, com toda a série de protocolos destinados a evitar uma guerra «acidental» entre super potências, foram sendo postos em causa, um a um, no presente século. 
É preciso que as pessoas tenham consciência que esta mudança de cento e oitenta graus, na política dos EUA, não foi o resultado de um movimento de massas, duma mudança da opinião pública, ou mesmo, nos principais partidos políticos, no seu conjunto.  

Esta mudança - com potencial catastrófico - deveu-se a um grupo obscuro chamado «Neo-Cons», que advoga no seu documento fundador PNAC ( projeto para um novo século americano, 1997) exatamente todas as políticas que vêm sendo seguidas desde o início do século XXI. 
Isto não pode ser coincidência, tanto mais que este grupo tem peões seus em vários sectores da administração, qualquer que seja o «partido» no poder (Noam Chomsky costuma dizer, nas suas entrevistas, que o poder, nos EUA, é de um partido único, com duas alas, a democrata e a republicana). 
Os neocons conseguiram capturar alavancas essenciais da administração, mormente nos sectores da defesa, espionagem (CIA, NSA, etc.) e diplomacia (ex.: Victoria Nulan, que promoveu o golpe na Ucrânia, com o pleno acordo de Obama).

O clima de suspeição e de constante bullying às potências nucleares menores, ou com capacidade de se tornarem nucleares a breve trecho, não apenas vem contrariar a doutrina da não proliferação de armas nucleares e de destruição massiva, adotada pela ONU e pelos Estados que têm assento permanente no Conselho de Segurança, vem também aumentar a probabilidade de «guerra nuclear por engano», ao fazer subir a tensão a níveis nunca antes vistos, mesmo no auge da guerra-fria, no início dos anos 60, aquando da crise dos mísseis de Cuba.

Se não houver uma inflexão política entre os aliados da NATO, limitando e depois eliminando a influência desta tenebrosa máfia dos «neocons» nas administrações dos EUA, sejam elas democratas ou republicanas, o mundo continuará à beira da destruição. 
Como indicam muitos relatórios oficiais sobre questões de defesa, a probabilidade de uma tal ocorrência é maior envolvendo pequenas potências nucleares e/ou por um encadeamento de falhas, de acidentes infelizes, nos dispositivos de controlo, do que num cenário onde as principais potências se confrontam diretamente e acabam por recorrer às armas nucleares, na sequência de uma escalada bélica.

As pessoas de boa vontade, que lutam pela transformação das políticas no sentido de uma proteção do ambiente, preocupadas com o efeito de estufa antropogénico (não irei discutir aqui se ele é, ou não, tão grave como advogam, apenas me refiro à mobilização que este tema desencadeia) deveriam pensar que, sem segurança global, sem eliminação metódica e controlada dos armamentos de destruição massiva, todo o futuro do planeta, da espécie humana, está posto em causa. 
Assim sendo, que sentido tem não fazerem com que todo o peso das campanhas de opinião e de movimentações de massas se oriente para a urgente tarefa de desativar o perigo de uma guerra nuclear?
Não serão eles cúmplices, por estarem objetivamente a dar campo aos que advogam e produzem um retorno às políticas de «guerra fria»? 
A política, seja em que domínio for, mede-se pelas prioridades que se dá: é escrutinando essas prioridades que se consegue conhecer as verdadeiras intenções. 
Eu, sinceramente, já não acredito na sinceridade de certos ecologistas, os que advogam a mudança para um modo de viver saudável, a redução da «pegada de carbono», etc.,  mas que não se emocionam, não fazem nada, viram a cara e assobiam, quando se coloca a questão da guerra e da paz, dos esforços que têm de partir da cidadania para pressionar governos a mudar o rumo de suas políticas. 

Também bastante ridículos me parecem os que se dizem radicais anti-autoritários, que não aceitam entrar em coligações (sem dúvida limitadas, mas efetivas) com outros, com genuína boa-vontade, para erguer um poderoso movimento pacifista. Com efeito, mesmo que não existissem armas nucleares e que a ameaça de destruição global não se colocasse, o facto é que os sistemas de organização de guerras, de militarismo, de exércitos, tanto para flagelar os exércitos inimigos, como populações indefesas, incluindo as próprias, sempre foram o essencial  do autoritarismo.

O fracasso ou a não-priorização dos ecologistas e dos anti-autoritários, com outros grupos e tendências, para erguerem um sólido movimento pacifista, é a maior falha que aquelas correntes exibem. É com imensa tristeza que verifico esta situação, muito ao contrário das tradições e dos valores próprios das referidas correntes.