Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
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sábado, 8 de abril de 2023

MOZART: Concerto nº17 para piano e orquestra (Peter Lang)

                      https://www.youtube.com/watch?v=O6qvGyU0g5Y


 Este concerto de Mozart para piano é dos mais celebrados do compositor. Ele foi composto para sua aluna Barbara Ployer, que o interpretou publicamente, em estreia, a 13 de Junho de 1784. Como nota curiosa, o tema do último movimento (finale) deste concerto era cantado pelo estorninho de Mozart, pelo qual tinha muito afeto.*

Além dos aspetos circunstanciais, este concerto tem muito interesse musical, em si mesmo. Talvez pareça simples, a ouvidos pouco familiarizados com a música de Mozart. Mas, na verdade, este concerto é muito rico em melodias, em variações sobre temas e possui uma orquestração realmente excelente, pois em permanente diálogo com o piano, não se limita a acompanhá-lo. 

Penso que é uma obra que exalta o que há de melhor no humano. Alegria e plenitude sobressaem e parece-me não ser indiferente que Mozart tenha escolhido a tonalidade de Sol maior. Como sabemos, as tonalidades eram escolhidas em função de características dos instrumentos (o âmbito, a afinação) mas também tinham valor simbólico: o Sol é o astro diurno e a nota «sol». Por outro lado, o modo maior infunde otimismo. Quando, em certas passagens, há modulação para modo menor, estas apenas põem em relevo o otimismo geral. 

Note-se a abundância das cadenzas conhecidas, escritas por Mozart para os vários andamentos deste concerto: Eram opcionais, mas sem dúvida foram usadas, num ou noutro momento, quando o compositor interpretava o concerto, ele próprio. Sabemos que também improvisava novas cadenzas, que seriam magníficas; porém, isso não era assim tão raro: A improvisação das cadenzas era algo que se esperava da parte do solista. Mas a codificação destas, por escrito, só começou a ser usual nos finais do Século XVIII. A cadenza não tinha caráter obrigatório e, por exemplo, Beethoven escreveu uma cadenza de outro concerto para piano, de Mozart. 

No romantismo, os concertos para piano tinham a cadenza escrita pelo músico-compositor, mas não era raro o próprio solista utilizar estes momentos para executar uma outra cadenza, da sua lavra. 

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(*) Os estorninhos são aves muito comuns, mas muito especiais também. Não só formam bandos enormes, que executam danças espetaculares nos céus, como são capazes de memorizar muitos sons e conseguem distinguir as pessoas pela sua voz.



sexta-feira, 16 de setembro de 2022

A QUADRATURA DO CÍRCULO (por André Manoukian)


 André Manoukian é, talvez, o mais genial divulgador de música na «era da Internet». O seu talento ajuda-nos a apreciar o sublime da arte dos sons, num espectro que vai da música clássica, ao jazz e ao pop.  

Veja também este vídeo (abaixo), de uma outra série. É sobre a improvisação em música:

                                            

Espero que, caso não conheçam ainda, explorem estes pequenos vídeos de André Manoukian: São realmente muito pedagógicos e divertidos!


terça-feira, 26 de abril de 2022

[Mitsuko Uchida] W. A. Mozart: Fantasia em Ré menor, K. 397




                                            https://www.youtube.com/watch?v=eNOhBE20zsI

A minha dupla homenagem, ao génio pré-romântico de Mozart e a Mitsuko Uchida que exprime toda a subtileza da música mozartiana, de modo único.

(para uma análise da peça, ver AQUI )
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Meu comentário:

Esta peça, tal como outras composições de Wolfgang Amadeus, tem um inegável toque de sensibilidade romântica. Talvez, o que caracteriza o romantismo seja - antes de mais - uma configuração mental. 

A época dita «rococó» está cheia de exemplos de peças ou de passagens, que soam como românticas aos nossos ouvidos. Provavelmente, porque na época seguinte, durante o Século XIX, muitos compositores se serviram de certas fórmulas como clichés. 
Aliás, não só Mozart revela sensibilidade pré-romântica. Também se pode notar esta tendência (estilo «Empfindsamkeit») nos filhos de Bach, Carl Philipp Emanuel e Wilhelm Friedmann, ou mesmo em Joseph Hadyn.
É notório que o movimento literário «Sturm und Drang» do final do século XVIII, era totalmente romântico. Porém, nessa época - cerca dos anos 1780 - a música ainda se regia pelos cânones do Classicismo.
Creio que o romantismo musical surge como a cristalização de tendências que já se afirmavam no Barroco tardio e no Classicismo.

 

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

[Gregory Sokolov] Mozart - Sonata para Piano Nº.12 em Fá maior, K 332

 A sonata nº12 para piano, mostra um Mozart na plenitude das suas capacidades criativas e feliz. Esta e as outras duas sonatas (nº10 e nº11), foram provavelmente compostas em Salzburg numa estadia em 1783, quando foi apresentar a sua esposa Constança, a seu pai, Leopold.  

https://www.youtube.com/watch?v=DK_owDX5WOE

                                    

Grigory Sokolov é um grande interprete, sempre bom servidor da música, um interprete como eu gosto de ouvir. 


domingo, 1 de agosto de 2021

[Elisey Mysin ] Concerto para Piano e Orquestra nº17 de Mozart


No vídeo acima, pode-se ouvir o 1º andamento do Concerto para Piano e Orquestra nº17 de Mozart. 

O solista é o talentoso músico de 8 anos, Elisey Mysin. Foi ele que compôs a «cadenza».Trata-se de um pequeno fragmento solístico, perto do final do 1º andamento dum concerto, em que o compositor deixava larga iniciativa ao intérprete para improvisar. A partir de certa altura, estas cadenzas começaram a ser escritas, algumas vezes pelo próprio compositor, outras vezes, por intérpretes.

Neste link seguinte:

https://www.youtube.com/watch?v=jO2x60MmFq0 

encontra-se a gravação, noutra ocasião e com outra orquestra, dos 2º e 3º andamentos do mesmo concerto nº17 para piano de Mozart, tendo Elisey Mysin como solista.

quinta-feira, 15 de julho de 2021

[RACHMANINOV, CONCERTO PARA PIANO N.3] + ODE À MÚSICA ETERNA


Khatia Buniatishvili, Neeme Järvi and the Verbier Festival Orchestra perform Sergei Rachmaninoff’s Piano Concerto No. 3 in D minor, op. 30 at the Verbier Festival in 2011. Russian composer Sergei Rachmaninoff (1873 – 1943) wrote his third Piano Concerto in 1909 at the Ivanovka country estate 550 kilometers south east of Moscow. Rachmaninoff spent the summer months here from 1890 until his emigration to the US in 1917. The three movements of the piece recall the structure of typical solo concerts of the Romantic era. Piano Concerto No. 3 in D minor, op. 30 was premiered by the New York Symphony Orchestra on November 28, 1909 in New York, conducted by Walter Damrosch. Rachmaninoff, who had been practicing the concert on a silent piano during his Atlantic voyage, played the solo part himself. As a child, pianist Khatia Buniatishvili, born in 1987 in Tblisi, Georgia, was considered a wunderkind. She began to play the piano at the age of three and gave her first concert with the Tblisi concert orchestra at the age of six. International performances followed when she was ten. In 2008, she gave her US debut at New York’s Carnegie Hall. Since then, Buniatishvili has been regularly invited to many high-profile festivals and has given concerts in the world’s most renowned concert halls, for instance at Vienna’s Musikverein, at the Concertgebouw Amsterdam and at the Berlin Philharmonic. She has won the highly respected Echo Classic Award twice. The Verbier Festival is one of the most prestigious classical music events in the world. The quality of the participating artists as well as the originality of the programs have established the festival as a highlight of the music season. It takes place for two weeks in late July and early August in the mountain resort of Verbier, in Switzerland. (00:20) I. Allegro ma non tanto (16:52) II. Intermezzo: Adagio (26:20) III. Finale: Alla breve

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ODE À MÚSICA ETERNA



Música, que nos comunicas calor na escuridão dos tempos,

Dás vida e desejo de prosseguir em plena luz e d'alma inteira

Quero te adorar e te beber como criatura eternamente no Éden.

Sem ti, a sensaborona mediocridade arrastaria tudo para o abismo.

Imerso em ti, oceano sem limite, o espírito ressalta, retemperado.




sexta-feira, 11 de setembro de 2020

MOZART: SINFONIA CONCERTANTE


               Maxim Vengerov – violin; Robert Kabara – viola; Sinfonietta Cracovia (Krakow Philharmonic Hall)


A Sinfonia Concertante de Mozart, aqui interpretada por Maxim Vengerov no violino, Robert Kabara na viola e a Sinfonietta Cracóvia, é uma peça tão excepcional, que poucas pessoas ficam insensíveis ao seu luminoso vigor.
É realmente um mistério para mim, desde a mais tenra infância. Esta peça exerceu sobre mim um fascínio único, apesar de eu ter estado permanentemente em contacto, desde muito cedo, com a música do grande Mago de Salzburgo.
Sem tentar analisar a peça, em si mesma, queria aqui deixar o meu testemunho pela gama de impressões psicológicas, que experimento quando oiço estas sequências de sons.
A perfeição desta gravação, com sua interpretação vigorosa, impecável, do ponto de vista técnico e estilístico, permite-nos usufruir plenamente da riqueza e exuberância da designada «Sinfonia», mas que obedece mais à escrita e à lógica de um concerto, para dois instrumentos de arco, neste caso.
Tenho sempre a sensação de voltar a ouvir «um velho amigo», de tal maneira o conteúdo da peça se me entranhou na memória.
É tão intenso o seu efeito na minha pessoa, que não consigo parar o gira-discos ou a gravação, quando estou a ouvir a peça; não consigo interromper, tenho de ouvi-la até ao fim.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

[NO PAÍS DOS SONHOS] TCHAIKOVSKY: SERENATA PARA CORDAS


Lá vêm outra vez, estes sons de beleza pungente, que trespassam a minha alma! 
Dentro do sonho acordado, que me proporciona a audição atenta desta serenata, sou transportado para outro espaço-tempo paralelo, outro universo em que o real se abre, como travessia do espelho.

O leitor não pode saber por que razão estes sons têm um efeito tão estranho na pessoa que escreve. 
Nem seria fácil conhecer a verdadeira razão, nem a personagem está acessível para desvelar todas as aventuras que viveu em sua vida. 

«Em suas vidas», seria melhor dizer, porque as vidas que já foram, retomam seus direitos e revivem no instante em que estes acordes, sacros e endiabrados da música de Tchaikovsky, atravessam os ares. 

Tudo está expresso ao pormenor em cada movimento. 
Quando fecho os olhos, vejo o passado não sonhado, mas recordado ou revisitado, de eras em que a vida tinha uma vibração mais intensa. 

A chave da história fantástica, alegre e triste, reside na própria música. 
Se fosse traduzir cada episódio em palavras, cairia na banalização e dessacralização que isso implica. 

Esta serenata tem a ver com alguém que existiu realmente. 
O compositor não inventou a história que deu pretexto a esta peça, mas teve o bom gosto de apresentá-la enquanto música absoluta, não programática. 

No entanto, aqueles poucos que a ouviram, aquando da sua estreia, sabiam! 
A linguagem musical raramente exprime, de forma mais límpida, os sentimentos e as paixões humanas: por isso mesmo, ela é tão poderosa.

domingo, 3 de junho de 2018

CONCERTO PARA CLARINETE K. 622 DE W.A. MOZART


Uma das últimas obras instrumentais de Mozart, estreada por seu amigo Stadler em Praga, em 16 de Outubro de 1791, apenas dois meses antes da morte do compositor. 

Este concerto é de estrutura muito clássica. Porém, o charme na melodia do solista, a sua aparente espontaneidade, fazem dele um dos meus preferidos concertos mozartianos. 
O original desta peça terá sido escrito para clarinete baixo: foram tentadas várias reconstituições da forma inicial do mesmo, partindo de tal hipótese, visto que o manuscrito de Mozart não é conhecido.

A interprete solista, Arngunnur Árnadóttir, é excelente! Está acompanhada pela orquestra sinfónica da Islândia, sob direcção do maestro Cornelius Meister



sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

QUARTETO «DISSONÂNCIAS» DE MOZART

Este é um dos quartetos dedicados ao seu amigo e colega Hadyn. 

A peça explora a dissonância, discursando em todo o esplendor das sonoridades graves (violoncelo) e das contrastantes cordas agudas, numa réplica optimista, como quem diz... "afasta os maus pensamentos e olha a beleza da Natureza!" 
Sim, parece mesmo ser isso que esta música me transmite. Uma filosofia de vida, cheia de sereno optimismo, em face das mais penosas ou menos felizes ocasiões das nossas vidas.
Estas cordas que «falam ao coração», são um discurso pleno de sentido, dos sentidos que naturalmente se enunciam com esta naturalidade divinal do génio mozartiano.   


                            



Não existe, porventura, algo mais transcendente, que eu conheça, em toda a literatura para quarteto de cordas. 
Para mim, este quarteto ressoa de modo muito particular pois me acompanhou desde os tempos da minha juventude. Costumava colocar o disco vinil no gira-discos, quando sentia necessidade de me revigorar, de espantar ideias pessimistas, de tomar coragem e seguir em frente.
Parece difícil de transmitir a beleza e a força da música clássica? Creio que não, creio que as pessoas que se dão ao trabalho de escutar, não apenas ouvir, verão que merece a atenção prestada.