Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
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quinta-feira, 1 de março de 2018

A CRIAÇÃO MONETÁRIA E A INFLAÇÃO

Muitas pessoas são mantidas na ignorância, em relação aos mecanismos que operam nas economias. Nomeadamente, para muitas pessoas, a inflação é um «mistério», do qual apenas experimentam os efeitos, sem realmente compreenderem a sua origem e a razão de ser. 

O aumento de preços ao consumidor é, afinal, equivalente a uma diminuição do poder de compra do salário ou pensão, ou quaisquer rendimentos monetários do indivíduo. 
Mas esse aumento não se verifica por obra  e graça de uma «força natural», uma tal «mão invisível» do mercado. 
Ele ocorre porque o sistema monetário está desenhado de tal modo que os poderes (dos Estados e do grande capital) podem a seu bel prazer manipular o volume de dinheiro em circulação, o dinheiro disponível. 
Veremos adiante como conseguem essa proeza. Mas, desde já, vamos esclarecer quais as vantagens deles, ao disporem e usarem abundantemente dessa capacidade de manipulação:
Imagine o leitor que tem de receber uma soma correspondente a um empréstimo que fez ao Estado (via obrigações do Tesouro ou outros instrumentos) ou a uma grande empresa. Isto é uma forma comum de poupança, investir-se em dívida pública ou privada, directa ou indirectamente, através de fundos. 
O juro é fixo: se tiver um juro abaixo da taxa de inflação real, por exemplo, juro de 3% ao ano, sendo que a inflação real é de 4%, na realidade está a perder 1% ao ano sobre essa suposta «poupança». 
A manipulação dos índices de inflação destina-se a ocultar este facto, a realidade da inflação, ou seja: existe uma perda do poder aquisitivo duma dada moeda, perdemos valor real somente por determos essa moeda. 
Um dado montante em dívida, que tem de ser integralmente paga ao fim de 5, 10 ou mais anos, o chamado «principal» irá valer, em termos reais , muito menos que o valor dessa mesma quantia no momento inicial: por exemplo, 1000 € em 2007 tinham uma capacidade de adquirir determinada quantidade de mercadorias, de bens ou serviços... o poder de compra dessa mesma quantia em 2017 é apenas de cerca de 60% de há dez anos atrás, compra-se menos 40% com esse dinheiro em 2017, relativamente ao que se poderia comprar dez anos antes, em 2007.

Os pensionistas perdem constantemente poder de compra, o ajustamento no montante das suas pensões vem sempre tarde e a más horas: o sistema de pensões (seja público ou privado) tira vantagem, obviamente, da existência de inflação. 
As contas do Estado, em geral, beneficiam com a inflação pois, no médio e longo prazo, as dívidas acabam por pesar muito menos e são mais facilmente liquidadas. 
Note-se que é uma devolução de «gato por lebre»... com efeito, se o Estado (ou a entidade privada) devolver dez anos depois os 1000 € que pediu emprestado, está a restituir apenas 600 €: o equivalente ao poder de compra de 600 €, em 2007!

Para gerar artificialmente inflação, que beneficia os devedores - principalmente a grande banca, as grandes empresas, os Estados - dá-se uma criação monetária constante. 
A criação monetária pode ser efectuada pelos bancos centrais. Eles têm feito isso ultimamente em grande escala quando compram dívida, com dinheiro criado a partir de nada: é o que tem feito o BCE, nomeadamente, desde há vários anos, com uma compra mensal média de 60 biliões de euros em activos financeiros aos bancos dos vários países e obrigações dos Estados-membros. 
O dinheiro globalmente disponível no sistema vai aumentando, sem que exista correlativa e proporcional retirada de circulação dessa divisa. Cada unidade nesta moeda (neste caso, o euro) fica portanto com o seu valor diminuído, visto que existem mais euros em circulação, para comprar sensivelmente a mesma quantidade de bens ou serviços.
Mas a principal criação monetária, nas nossas sociedades, é efectuada quotidianamente pelos bancos comerciais: através dos empréstimos, eles criam dinheiro a partir de nada: Se tiver 100 € no banco e o mesmo banco emprestar 100€ a outro cliente, este irá ter a sua conta creditada com 100 €, que poderão ser utilizados. 
Devido ao empréstimo do banco, existirão agora 200 €, onde antes existiam apenas 100€. 
É esta a principal origem de inflação monetária. Os bancos detêm quase todo o controlo do crédito, tendo portanto capacidade de «aquecer» uma economia, facilitando o crédito, ou o contrário. 

O custo dos empréstimos, as taxas de juro são o instrumento mais utilizado para controlar a quantidade de dinheiro disponível. Os bancos centrais, os governos e a banca comercial detêm o controlo dessas taxas, para manterem em funcionamento o sistema, mas no sentido de os favorecer a eles
O cidadão comum está, muitas vezes, enredado em dívidas, em relação à casa, ao automóvel, a várias compras (cartões de crédito...). Tem muito pouca margem de segurança para «ficar à tona», caso falhe - num dado momento - a entrada de dinheiro, ou se for obrigado a fazer face a despesas não previstas.  
Desde 2008, sobretudo, a poupança é desestimulada, visto que as taxas de juro são negativas, em termos reais. Se a inflação verdadeira é de 6% , um depósito a prazo com juro de 4%, é negativo: - 2%
Com este mecanismo, as pessoas são empurradas para apostas arriscadas no casino da especulação, na bolsa de ações, ou noutros activos financeiros.  
Outras pessoas «jogam» no imobiliário, estimuladas pela bolha especulativa a investirem em casas ou apartamentos claramente sobre valorizados; quando vem uma crise, perdem imenso, 50% ou mais do valor investido, quando não perdem tudo, porque ficaram falidas.
A economia individual ou familiar tem de ser compreendida de modo diferente da economia global. É necessário poupar, sempre que possível, e fazê-lo a vários níveis. 
As famílias e indivíduos podem poupar, fazendo reserva de alimentos ou outros bens consumíveis: ao terem uma dispensa contendo mais do que o consumo imediato (por exemplo, reservas de alimentos que se podem guardar 2 a 6 meses...) estão a poupar, porque evitam pagar mais caro. Não devem recorrer ao crédito e, caso o tenham feito, ir diminuindo o montante em dívida, sempre que tenham oportunidade disso. 
Se têm algum excedente,  é mais seguro investir fora do sistema financeiro: por exemplo, em moedas ou barras de ouro ou prata, em bens imobiliários (casas e/ou terrenos), etc...estes funcionam como almofada de segurança, caso haja aceleração da inflação: os referidos investimentos têm, neste caso, um aumento que equilibra, ou mesmo ultrapassa, o efeito da inflação sobre salários e pensões.

As pessoas devem tentar aprender noções práticas de economia fora do convencional, da pseudo-ciência económica, que apenas está interessada em que as pessoas vivam na ilusão. Não se poderão defender, se estiverem na ignorância dos mecanismos básicos, aliás, muito menos complicados do que possam parecer à primeira vista.
Por ingenuidade e défice de informação, acabam por ter o comportamento que interessa aos detentores do grande capital. Sobretudo, não irão jamais questionar, apontando responsabilidades, pela degradação do poder de compra de suas poupanças, de seus salários e pensões... 

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

DA ESCRAVATURA MODERNA

A ESCRAVATURA COMO MODO DE PRODUÇÃO

O sistema económico esclavagista vigorou na antiguidade, sendo substituído a pouco e pouco pelo feudalismo. Porém, algo da sociedade esclavagista permaneceu e teve um renovo, na sequência da expansão ultramarina de potências como a Espanha e Portugal, no século XV e XVI, às quais se juntaram a França, a Inglaterra, a Holanda, nos séculos seguintes. A utilização em massa do trabalho escravo apenas ficou confinada a algumas sociedades pós-coloniais, como os EUA onde, no Sul, uma mão de obra escrava se ocupava das penosas tarefas de uma agricultura orientada para a exportação de algodão e outras produções tropicais. Porém, no decurso do século XIX os interesses económicos do capitalismo industrial, expressos na ideologia liberal, forçaram a uma abolição da escravatura, na maior parte dos países. Portugal foi um dos primeiros a fazê-lo.



A ESCRAVATURA DA DÍVIDA

A forma moderna de escravatura chama-se dívida.
Ela não foi inventada nos tempos modernos, pois já existia na antiguidade; era frequente em sociedades arcaicas, alguém se entregar como escravo para saldar dívidas acumuladas, por forma a preservar a propriedade e, portanto, a subsistência da família, num tempo em que a agricultura era o modo de vida de quase toda a população. Porém, nos tempos de hoje ela tornou-se muito mais refinada e perversa. Vejamos como:
Os bancos centrais emitem papel-moeda, aliás sob forma eletrónica em grande parte, nos dias de hoje. Esse «papel» não tem contrapartida nenhuma, não tem a sustentá-lo nenhuma quantidade de metal precioso (ouro ou prata), o qual era diretamente usado como dinheiro durante mais de cinco mil anos, sendo depois armazenado nos bancos centrais e sendo possível obter o equivalente em ouro ou prata em troca de uma determinada soma em papel-moeda.  Este sistema funcionou nomeadamente, durante o século XIX e a primeira metade do século XX. Os grandes sobressaltos, como as guerras (guerra de secessão dos EUA, primeira guerra mundial e segunda guerra mundial) foram ocasião para os governos desvalorizarem forçadamente o dinheiro, por forma a obterem os abastecimentos em matérias primas, armas, víveres para continuarem a guerra. Fora desses períodos conturbados verifica-se uma estabilidade monetária (ausência de inflação) e uma expansão do comércio e indústria. O «padrão ouro» ou «padrão bimetálico» funcionou razoavelmente bem no período que vai do fim das guerras napoleónicas até ao início da 1ª Guerra Mundial.
Porém, o abandono progressivo da convertibilidade das moedas em ouro foi levado a cabo pelos governos no século XX, até à suspensão de Bretton Woods, por Nixon em 1971, que fechou a janela de convertibilidade do dólar em ouro (a 35 dólares a onça de ouro). Desde então, os bancos centrais e os bancos comerciais são as únicas entidades emissoras de «dinheiro-papel». Estas entidades criam dinheiro a partir de nada. São elas que detêm o verdadeiro poder. As pessoas têm de obter dinheiro a troco de trabalho ou de venda de bens, os quais são ao fim e ao cabo resultantes de trabalho, mesmo que seja por antepassados. Os banqueiros apenas têm de digitar uns números.
No caso dos banqueiros centrais, eles decidem, por exemplo, comprar títulos detidos pela banca comercial. Estes títulos são adquiridos ao valor nominal, mas isso não corresponde ao valor real. Assim, os bancos centrais ficam com uma carteira de ativos monstruosa, mas que será muito difícil, senão impossível, de reduzir. Por outro lado, os bancos comerciais recebem do banco central dinheiro «fresco» que pode servir assim para reequilibrar as suas contas.   
Quanto aos da banca comercial, quando eles estabelecem um empréstimo a um cliente, estão a criar dinheiro a partir de nada, ao digitarem uma soma na conta desse cliente. Através do sistema de reserva fraccionária, é legal os bancos emprestarem (segundo os casos) entre 10 a 30 vezes mais dinheiro que aquele que detêm em ativos. O que os bancos fazem legalmente é emprestarem aquilo que não possuem: esse ato é considerado crime se efetuado por uma pessoa «vulgar», dá direito a prisão…


HIPOTECA = PACTO DE MORTE

A palavra «mortgage» (hipoteca em Inglês) provém do francês arcaico e significa pacto (gage) de morte. Assim, uma pessoa compromete-se a restituir o que pede emprestado, nas condições do empréstimo, sob pena ficar devedora até à morte, ou seja, será condenada à escravidão, caso não cumpra o referido contrato.
Durante os últimos decénios, passou-se de uma economia de produção, no Ocidente, a uma economia da dívida: as pessoas ficaram dependentes do sistema bancário para tudo. O seu nível de vida foi melhorado durante a primeira parte do período (até aos anos oitenta do século XX) mas começou a estagnar e mesmo regredir a partir de então, para o conjunto dos países ditos «Ocidentais». Os salários estagnaram devido a uma contraofensiva do capital, nos anos Thatcher-Reagan, que se traduziu por uma «liberalização» /desregulamentação das relações laborais. As famílias da classe trabalhadora que tinham atingido um certo conforto material, tiveram de recorrer mais e mais ao crédito, a empréstimos, a hipotecas, para obterem bens duráveis e perecíveis que, entretanto, se habituaram a possuir. Por exemplo, o número de salários que um trabalhador necessitava para comprar a sua habitação nos anos cinquenta do século XX, era muito inferior aos que necessitaria hoje em dia, em média.  Mas esse sistema da dívida atingiu hoje em dia o paroxismo de muitas pessoas estarem sobre endividadas, com hipotecas para a casa, para o automóvel, para os estudos, para o consumo (cartões de crédito).

A EXPANSÃO DA DÍVIDA

Desde o abandono do sistema de Bretton Woods em 1971, a escravatura da dívida cresceu a um ritmo exponencial. Nos EUA, a dívida total em 1971 somava 1 700 milhares de milhões de dólares. Hoje, atinge mais de 67 000 milhares de milhões de dólares. No início do século XXI, era de 30 000 milhares de milhões de dólares, mais do que duplicou, nos 16 anos subsequentes. Se compararmos o crescimento da dívida com o do PIB, vemos que nos EUA, desde 1971, a dívida total foi multiplicada por 39 enquanto o PIB apenas foi multiplicado por 16. Isto prova que o aumento do nível de vida se fez à custa de uma falsa riqueza, uma riqueza que foi obtida por impressão monetária. Mas será isso um problema? Sim, é um problema pois essa dívida nunca desaparece, simplesmente ela é atirada para o dorso das futuras gerações. Os cálculos que se façam para os Estados Unidos, aplicam-se, e com resultados muito semelhantes, a outros países e para a economia mundial. Veja-se o quadro abaixo para ilustrar o fenómeno:



Dívida mundial: 2 quadriliões de dólares

A impressão maciça de papel-moeda criou esta dívida monstra. O aumento da «liquidez» (ou seja, impressão monetária) para resolver o problema, apenas vai manter e agudizar o mesmo. O efeito devastador desta destruição do valor da moeda vai repercutir-se, cada vez mais, nos anos seguintes: como a impressão monetária é o único instrumento de que os bancos centrais dispõem, vão continuar a fazê-lo, tanto mais que os governos ficam gratos de uma diluição do valor das moedas; com efeito, isso corresponde a uma diminuição do valor relativo das dívidas. Os Estados têm dívidas diversas, obrigações diversas, que se exprimem em unidades de moeda que têm de pagar, no futuro. Se essas unidades estão desvalorizadas e o Estado paga a soma em dívida, a dívida ficou saldada… em termos contabilísticos, mas não em termos reais. Suponhamos uma pessoa, que tem descontado ao longo da sua vida profissional determinadas somas para o fundo de pensões (seja o fundo do Estado ou privado, o problema mantém-se). A partir do momento da reforma, começa a auferir uma soma fixa, mas essa soma corresponde à restituição de somas investidas ao longo de decénios. No entanto, se fosse calculado o juro médio correspondente a essas somas em todos os anos descontados, essa pessoa teria agora uma pequena fortuna, muito mais do que aquilo que irá receber nos anos que lhe restam de vida. É assim – de forma fraudulenta – que o Estado se descarta das suas obrigações. Um dólar actual, relativamente a um dólar dos anos 70 do Século XX, vale um sexto ou menos… As outras divisas mundiais têm uma perda de valor ainda mais acentuada.

UMA SOCIEDADE SEM DINHEIRO-PAPEL

Os banqueiros e governos sabem que dependem da escravatura da dívida para se manterem. Mas, para isso ser possível, têm de obrigar as pessoas a manter o seu dinheiro dentro das instituições de crédito. A ofensiva contra o dinheiro líquido (=em papel) toma amplidão a partir do momento em que os Estados e Bancos Centrais enveredaram por uma aventurosa e criminosa experiência de multiplicação desenfreada do dinheiro em circulação. A isso se resumem os «Quantitative Easing» e outras medidas, cujo o objetivo é «gerir» o ingerível, ou seja, dar a ilusão de solvabilidade, de não haver bancarrota, quando na verdade, se se olhar através de um prisma realista, todo o sistema está falido.
Inventaram então a repressão financeira, ou seja, uma taxa de juro forçada, demasiado baixa, que não corresponde aquilo que existiria resultando da oferta e procura de capitais, ou seja pelo funcionamento capitalista clássico.  Assim, os juros de depósitos a prazo, sendo menores do que a inflação, as pessoas serão empurradas para arriscar o seu dinheiro no casino da bolsa… o que explica, em grande parte, o crescimento contínuo das mesmas, sem que haja real aumento do valor das empresas cotadas.
Mas para «honrar» os compromissos e dívidas da banca, era necessário que as pessoas não pudessem subtrair o seu dinheiro, não o pudessem levantar sob forma de papel, tivessem de obrigatoriamente usar meios eletrónicos para os pagamentos. A consequência é que num contexto de ausência de dinheiro papel, as pessoas não poderão fazer nada senão recorrendo a cartões de crédito e outros meios de pagamento, inteiramente controlados pelo sistema bancário. Para além da total perda de privacidade e confidencialidade, os bancos e os Estados procuram obter um controlo total, para taxarem a seu bel prazer os escravos. Os bancos poderão retirar – legalmente- somas (o juro negativo) tão grandes quanto seja preciso para sua manutenção… Os Estados poderão fazer um controlo total e «imposição dos impostos» que entenderem, sem qualquer possibilidade de fuga. As pessoas, muitas vezes pensam que os que fogem aos impostos são vilões e que o Estado é uma entidade virtuosa que zela por nosso bem. A verdade é que o Estado é um monstro frio e impessoal, que quer sempre devorar mais capital, ao fim e ao cabo, o produto do trabalho, do engenho, do esforço e da criatividade humanas.
A Suécia já está praticamente no estádio da sociedade sem «cash». A coroa sueca, como outras divisas, perdeu 99% do seu valor. Ninguém pode viver na Suécia sem fazer as suas despesas no quotidiano por meios eletrónicos.


Isto está em vias de acontecer com as outras divisas. 

CONFISCAÇÃO DOS RENDIMENTOS POR VIA FISCAL


No reino do Big Brother é muito conveniente o aumento insensível do nível de imposto, sem que as ovelhas, incautas, se apercebam: assim, há um século o imposto designado por IRS já existia, mas quase ninguém o tinha de pagar. Era apenas pago pelo 1% com maiores rendimentos. Os escalões foram-se mantendo, apesar da inflação, pelo que hoje em dia, quase ninguém deixa de pagar o IRS, por mais modesto que seja o seu rendimento real. Assim, em IRS (que atinge valores da ordem de 20% de rendimentos médios, mesmo depois de descontos diversos), IVA (com muitos bens comuns a 23% e apenas uma minoria com imposto reduzido), imposto sobre combustíveis (cerca de 80% do preço da gasolina é para impostos), IMI (valores de imposto para as famílias, os grandes detentores de imobiliário, desde as empresas de imobiliário, igrejas, partidos, etc. estão isentas), em impostos diversos… uma família média em termos de rendimentos e de despesa, paga aproximadamente 50% ou mais de impostos ao Estado, sobre o seu rendimento nominal. Se compararmos o mesmo índice há 50 ou 100 anos atrás, veremos que o crescimento da fatia de rendimento que é capturada pelos impostos aumentou muito mais do que o próprio aumento do rendimento disponível. Pode-se dizer, sem receio de errar, que os impostos excessivos são um meio de extorsão, porque a contrapartida em serviços públicos é cada vez pior, a qualidade está ausente, a sua universalidade deixa muito a desejar e verifica-se que o desmantelamento do «Estado social» atinge já um grau muito avançado, com entrega à gula privada de sectores inteiros (saúde, educação, transportes, estradas, etc…). É a escravatura da sociedade no seu conjunto, para benefício de uma pequena minoria de financeiros, com os acólitos que controlam o aparelho do Estado: estamos perante um novo feudalismo.

TODA A EXPANSÃO DE CRÉDITO TEM UM FIM

O aumento dos empréstimos dos Estados, principalmente nos países da OCDE («Ocidente») não poderá continuar indefinidamente. Chega um ponto em que a carga de juros aumenta para além da capacidade de pagamento dos Estados, caso esses juros sejam fixos. Caso sejam variáveis, os juros são artificialmente suprimidos por compra dos títulos de dívida pelo BCE (Banco Central Europeu) o que origina uma distorção enorme do mercado. Num sistema capitalista, o preço do dinheiro é um parâmetro fundamental. Se o dinheiro é demasiado barato, ou seja, se os juros para obter empréstimos são demasiado baixos, vai ocorrer uma má atribuição de capital pelos diversos agentes económicos: muitas vezes essa atribuição não será prudente, não será produtiva no médio-longo prazo… Em suma, haverá necessariamente uma má aplicação generalizada de capital. Que outra coisa se vê, senão isso? Veja-se os empréstimos das empresas cotadas em bolsa e que servem para compra das suas próprias ações em vez de servirem para expansão do seu negócio, para aumentar a sua capacidade produtiva. Veja-se o aumento especulativo absurdo do imobiliário em tantas cidades pelo mundo fora (São Francisco, Toronto, Nova Iorque, Londres, Berlim, Lisboa…etc.). Veja-se o afundamento da economia produtiva verdadeira, da que produz bens e serviços reais, enquanto surge uma economia totalmente fictícia, tanto em termos de valor acrescentado, como em termos de serviço real à comunidade; mas é esta pseudo-economia que é louvada, acarinhada e incentivada na média quotidianamente…
              
          

O Quadro acima reflecte o Mercado global de obrigações, emitidas pelos Estados, seja em dólares (note-se que vários países emitem dívida em dólares e não apenas os EUA) seja noutras divisas, seja o mercado de obrigações de Economias Emergentes (E.M.). Penso que este quadro resume a total desregulação dos sistemas económicos mundiais. Pensemos no que acontece com essas somas absurdas de dinheiro. Os Estados não as aplicam produtivamente. Mais dólares disponíveis significa maior despesa em armamentos, em actividades improdutivas, em desperdício e enriquecimento da cleptocracia que nos (des)governa.

 Quando rebentar a crise, os países vão impor controlo de divisas. Vão fechar todas as portas e janelas para impedirem os cidadãos de tomar medidas para preservar o seu dinheiro. Já têm o plano bastante avançado. O famoso «reset» de que tanto se fala, será provavelmente uma ocasião dos muito ricos e poderosos ganharem ainda maior controlo sobre as riquezas materiais.
Como dizia um dos primeiros banqueiros Rothchild: «Dêem-me o controlo da emissão de moeda e pouco me importa quem estará aos comandos do Estado»
Para não se ser esmagado por uma crise anunciada, a qual implicará num momento ou noutro, uma hiperinflação, a única salvaguarda é fugir de bens financeiros, investindo em bens reais: fazer um estoque de bens alimentares (conservas, cereais, massas alimentares, água), de medicamentos (quer usados cronicamente, quer esporadicamente). Investir em sistemas de purificação da água, geradores de eletricidade, combustíveis…Dispor de moedas em ouro e prata; dispor de uma soma em dinheiro-papel, para o caso de uma interrupção prolongada (ou um racionamento) do fornecimento do dinheiro nas máquinas multibanco (ATM).
Não servirá de nada tomar estas medidas em cima do acontecimento: os sistemas financeiros (incluindo as máquinas ATM) entrarão em colapso; as redes de distribuição de bens alimentares irão parar, num espaço de uma semana, se a crise atingir uma gravidade maior, etc. 
Portanto, as medidas apontadas só serão eficazes se tomadas antes desta crise vindoura estourar. Depois será demasiado tarde.

Não se deve ter a ilusão de que os que estão ao comando do sistema vão trabalhar para salvá-lo e nos salvarem também. Eles vão apenas garantir que a transição - inevitável, por tudo o que ficou acima exposto – seja feita em seu proveito próprio. O mínimo que podemos fazer é informar-nos, informar os outros de forma não alarmista, mas consistente, na esperança de que um número significativo de pessoas, tendo conhecimento, saber, sobre o que está sendo planeado, melhor se defenderão. Serão essas pessoas que estarão em condições de subsistir e construir uma nova economia, um novo mundo.




segunda-feira, 27 de março de 2017

UM CONTO PARA MEDITAR


«Fui convidado no outro dia para jantar em casa de um amigo de longa data da minha família, possuidor de uma fortuna considerável, embora não tenha a vaidade de se vangloriar da mesma, tendo por isso ele e sua família conservado, em sucessivas gerações, os bens e rendimentos acumulados, aumentando paulatinamente o capital, mau grado as crises, as guerras e outras ocorrências na esfera política e económica.
A certa altura, na conversa após o excelente jantar, falou-se da preservação do valor das poupanças, do facto de se estar constantemente dependente de um sistema bancário que nos impõe taxas ridiculamente baixas de depósito a prazo. Com efeito, a remuneração do capital neste contexto desaparece, pois a maior parte das pessoas não arrisca o seu dinheiro no «casino» da bolsa de valores e os poucos que o fazem, ficam quase sempre depenados.
Neste contexto, argumentava eu: "que resta à pessoa da classe média, senão gastar o seu dinheiro, em bens e serviços que lhe dão um suplemento de prazer, conforto, etc. enquanto esse mesmo dinheiro conserva algum poder de compra?" Para reforçar o meu argumento, lembrava episódios de hiperinflação, muito mais frequentes na História do século XX do que a maior parte das pessoas julgam saber. "Além do mais", dizia, "temos diante dos olhos o triste exemplo da Venezuela: um país com tanta riqueza (nº 1 em reservas de petróleo a nível mundial!), com sua economia completamente destruída". Outros, em roda da mesa, avançaram com as suas próprias visões e experiências relativas a este assunto.
O nosso anfitrião – depois de ouvir todos os seus convivas - replicou, dando como exemplo o caso da sua família. 
Nesta, por tradição e gestão criteriosa, os bens herdados eram transmitidos à geração seguinte, ou algo equivalente a estes mesmos bens, em rendimento e valor. A este património acumulado de anteriores gerações, acrescentava-se o excedente acumulado na geração presente.
Como regra empírica, tinha-se adoptado uma distribuição de activos diversificada,  que se pode resumir em três grandes categorias: bens financeiros (acções, obrigações, depósitos bancários, participações em fundos); bens fundiários e imobiliários (terras, imóveis) e bens móveis (ouro, prata, jóias, arte).
Cada categoria desempenhava a sua função: os bens podiam articuladamente proporcionar um rendimento suficiente para manter o nível de bem-estar, mesmo em tempos conturbados, pois - quando determinado item baixava de valor, ou tinha rendimento menor - havia outros que, pelo contrário, aumentavam. 
Assim, a gestão de património resumia-se a dosear a proporção atribuída a cada categoria e, dentro desta, a compreender a dinâmica dos mercados respectivos. 
Para o nosso anfitrião, ser sábio - em termos económicos e financeiros - equivalia a compreender a dinâmica dos vários mercados (monetário, de acções, de obrigações, de matérias-primas, de metais preciosos, do imobiliário, etc).
Face a esta exposição franca do «segredo» desta família abastada, um dos convivas perguntou-lhe então qual a distribuição de bens que tinham adoptado, no presente.
- O nosso anfitrião respondeu: «Nós decidimos, face às grandes incertezas nos mercados financeiros, converter grande parte dos activos em património não financeiro, exceptuando certas acções e obrigações de empresas sólidas, com capacidade de gerar rendimento, mesmo em contexto de crise. Tudo o resto foi convertido em bens não financeiros: imobiliário, propriedade agrícola, metais preciosos (ouro e prata) e antiguidades e arte, cotadas nos mercados internacionais.
Se o nosso prognóstico de crise vindoura se revelar incorrecto e se - após uma ligeira contracção da economia mundial - se voltar a um novo ciclo de expansão, teremos perdido algumas oportunidades de investimento, mas não teremos perdido nada de substancial, em termos de património global. 
Porém, caso os vaticínios de numerosos economistas - de várias tendências e escolas de pensamento - sejam correctos e estivermos à beira de um período de grandes convulsões económicas, com as consequentes repercussões na esfera política e social, então a mudança operada em bom tempo pela gestão familiar terá toda a sua razão de ser e será evidente a sua sensatez. Num contexto em que muitas fortunas ficam reduzidas a quase nada, os poucos que conseguem manter o seu património - somente esses - poderão prosperar, assim que for ultrapassado o tempo de crise.»


Esta história é inventada, mas o seu conteúdo reflecte exactamente o que têm feito as famílias de «riqueza antiga».

Os meios de comunicação económicos (jornais, revistas, televisões…) não revelam o quadro geral, antes dão uma ideia parcelar e geralmente «rósea» do panorama económico. Não informam nem esclarecem o público sobre a extrema alavancagem do crédito, das operações arriscadas com «credit default swaps», com a sobre-cotação das acções em bolsa por auto-compra das mesmas pelas próprias empresas, o sobre-endividamento das economias aos níveis familiar, empresarial e estatal.
A acumulação da dívida pública, em muitos Estados, a começar pelos EUA e a maioria da Europa Ocidental, tornou-se um problema insolúvel na ordem vigente.
Estas dívidas são potencialmente detonadoras de uma crise sistémica com dimensão inédita. Basta pensar no efeito «bola de neve» que terá uma crise da dívida, num país médio ou grande, nos mercados monetários e financeiros.
Porém, os políticos fazem como se estas dívidas pudessem ser «roladas» indefinidamente, o que é obviamente impossível. A única razão porque eles – políticos e a média – mantêm tal ficção, é porque são directos beneficiários deste estado de coisas.

Os pobres irão ficar na miséria, os remediados irão ficar mais pobres e os muito ricos continuarão com o nível de riqueza que já usufruíam ou aumentarão ainda mais os seus patrimónios.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

SISTEMA MONETÁRIO INTERNACIONAL. LANÇANDO ACHAS PARA A FOGUEIRA...

Lendo um excelente artigo de Charles-Hugh Smith, o autor do blog «OF TWO MINDS», sobre a possibilidade ou não do retorno ao padrão-ouro, fica-se a compreender o paradoxo do sistema monetário usando uma divisa de reserva, o US dollar.
Porém, no mundo de hoje, largamente digitalizado, a existência de reservas de ouro nos bancos centrais não é paradoxalmente «relíquia do passado», como muitos afirmavam, mas «a moeda de reserva em última instância», segundo Alan Greenspan.
Poucos, infelizmente, são os economistas e especialistas monetários de hoje com coragem de pensar, como diz Charles-Hugh Smith, fora do «culto keynesiano».

Afinal, nas condições do presente, um sistema monetário internacional - que preencha as suas funções essenciais - pode existir e funcionar perfeitamente, entre os diversos países, sem que existam reservas de moeda ou de ouro, nos respectivos bancos centrais.

O sistema justo poderia ser algo que funcionasse como o «bitcoin» ou outras moedas digitais (criptocurrencies), as quais são neutras em si mesmas, não são manipuláveis por nenhum banco central, não são sujeitas a manipulações pelos governos de nenhuns países.
Porém, no âmbito do que existe atualmente, verifica-se uma forte ligação de quase totalidade dos sistemas de pagamento baseados em divisas nacionais. No imediato, certamente não prevejo que se possa eliminar estas mesmas divisas, os dólares, os yuans, os euros, as libras, etc. Ora, as divisas nacionais são o alvo preferido da especulação. Isso cria instabilidade e nenhuma riqueza verdadeira. Qualquer sistema que elimine esta especulação, essencialmente danosa para as economias, terá uma vantagem decisiva sobre o presente.

Um sistema monetário internacional estável, neutro e não sujeito a especulação

É simples, no nosso mundo, chegar a acordo sobre um conjunto de matérias-primas, cuja cotação esteja contemplada num «cabaz». Estas matérias-primas podem/devem incluir: os metais preciosos, os metais industriais, os cereais e os combustíveis.
Assim, todas as divisas nacionais se iriam referir a esse «cabaz». Um Dólar, um Yen, um Euro... etc, que fracção deste cabaz de matérias-primas poderia comprar?
Todas as moedas estariam automaticamente cotadas, umas em relação a outras, pois todas se posicionavam pela sua capacidade acquisitiva relativa ao cabaz.

Não haveria necessidade de divisa(s) de reserva ou de uma reserva de ouro (ou de outros valores tangíveis) na posse do Banco Central de cada país.
Aliás, não seria indispensável uma entidade complexa e pesada chamada «Banco Central»: a função histórica do Banco Central emerge com a economia mercantil do início do século XVIII, com as moedas de ouro, prata e outros metais em circulação a serem parcialmente sustituídas por títulos desse mesmo banco central. Logo nos primeiros tempos deste sistema, se verificaram fraudes monumentais, como a de John Law...


Muitos governos, pressionados por diversos fatores, são tentados a aumentar a impressão de moeda, tendo isso um efeito diluidor de seu valor nos mercados monetários, ou seja, cada unidade dessa moeda valendo menos. Ao recorrerem a este mecanismo, põem em risco a credibilidade da própria divisa, podendo mesmo acabar por desencadear hiperinflação. Uma tal inflação monetária não seria impossível de acontecer no novo sistema, porém seria muito menos provável, pois a excessiva presença dessa tal divisa causaria, como reflexo, a subida da cotação das matérias-primas nessa divisa. A descida da capacidade aquisitiva dessa moeda, referente ao cabaz, seria logo detectada.
Com este sistema, muito simples de implementar, cada nação teria fixado, ou estabilizado, o valor da sua respectiva divisa. Não haveria mais crises, desencadeadas por especuladores do tipo de George Soros que fez fortuna especulando contra a Libra esterlina, as moedas nacionais de vários países do Sudeste Asiático, o Rublo... Não haveria campo para especulação grande e pequena no FOREX e nos mercados de «derivativos».
Note-se que a flutuação cambial é - em grande parte - correlacionada com os movimentos especulativos dos capitais ao nível internacional. Essa especulação só retira valor, não tem nenhum efeito global positivo, é uma mera parasitagem do sistema financeiro e económico mundial.
Um sistema sem especulação sobre as divisas não seria perfeito: haveria outros domínios, tradicionais ou novos, em que os especuladores, provavelmente, iriam continuar a actuar.
Porém, como a economia real (produção e troca de bens e serviços) necessita que a moeda seja um instrumento credível, tudo o que reforce a estabilidade da moeda é favorável, em termos económicos. Pelo contrário, a existência dum ataque especulativo sobre dada moeda pode precipitar um colapso e causar desastres económicos como a hiperinflação, em que os mais pobres são as principais vítimas, etc.

Do ponto de vista sistémico, a mudança para uma referência geral das divisas nacionais perante um cabaz de matérias-primas, é uma mudança neutra: tanto pode funcionar num contexto global capitalista como noutro sistema, não-capitalista (chame-se ele como se entender).
O sistema que proponho, de amarrar todas as divisas nacionais a um cabaz de matérias-primas, teria certamente vantagens sobre o presente, ao eliminar as flutuações de divisas, da qual se aproveita a especulação.