From Comment section in https://www.moonofalabama.org/2024/03/deterrence-by-savagery.html#more

The savagery is a losing card. By playing it the US and the West are undercutting every ideological, normative and institutional modality of legitimacy and influence. It is a sign that they couldn't even win militarily, as Hamas, Ansarallah and Hezbollah have won by surviving and waging strategies of denial and guerilla warfare. Israeli objectives have not been realized, and the US looks more isolated and extreme than ever. It won't be forgotten and there are now alternatives.
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sexta-feira, 17 de novembro de 2023

4 FRAGILIDADES DO IMPÉRIO [parte I]

O poderio imperial americano, que se afirmou a partir da implosão da URSS e do sistema socialista mundial, como poder unipolar dispensador de benesses aos seus aliados/vassalos e guerreando os que considera inimigos, reais ou potenciais, assentou sobre quatro pilares, que são:
1/ sistema monetário
2/ recursos energéticos
3/ poderio militar
4/ média corporativa ou de massas


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PARTE I.



SISTEMA MONETÁRIO

O sistema monetário internacional ainda está baseado no dólar enquanto moeda de reserva e enquanto divisa mais frequente nas transações internacionais (financeiras e comerciais).
Porém, com a ascensão dos BRICS, aumenta a capacidade deste grupo (em breve, com 11 membros) com seus aliados, de comerciar entre si e fazerem acordos de longo prazo (nomeadamente energéticos) usando suas respetivas moedas nacionais, não recorrendo ao dólar.
Afirmei, há algum tempo, que o fim do petrodólar assinalaria o fim do Império americano. Verifico que a minha previsão se está a cumprir.
Quando Nixon (em 15 de Agosto de 19171) decretou unilateralmente o fim da convertibilidade dos dólares em ouro, de facto, traiu o acordo de Bretton Woods. Neste, a conversão dólar/ouro era central. Como resultado dessa medida, a instabilidade apoderou-se dos mercados financeiros, arriscando a quebra do sistema capitalista mundial.
Em 1973, o Rei da Arábia Saudita e Henry Kissinger acordaram um pacto, segundo o qual todo o petróleo comprado a este país seria pago em dólares, exclusivamente. Em contrapartida, os EUA garantiam a segurança do Reino Saudita com fornecimento de armamento, espionagem-informações, diplomacia e intervenção direta, se necessário. Nessa altura, a Arábia Saudita era o principal produtor mundial de petróleo e a OPEP, o cartel petrolífero que os sauditas dominavam. Rapidamente todos os países exportadores de petróleo, grande parte, monarquias do Golfo Pérsico, alinharam-se com a Arábia Saudita, apenas aceitando dólares em pagamento do seu petróleo.
Como ficaram com um excedente enorme de petrodólares em resultado das exportações para todo o mundo, acumularam «Treasuries», ou seja, obrigações do Tesouro americano, financiando assim a dívida dos Estados Unidos. Todos os países que comprassem petróleo tinham de possuir dólares em reserva, ou comprá-los no mercado internacional de divisas.
A partir deste ponto, os EUA passaram a ter défices crónicos, quer no orçamento de Estado, quer nas transações internacionais. Os «défices gémeos», tiveram como consequência que o governo dos EUA podia, sem arriscar um colapso, atribuir somas colossais às despesas militares e às guerras em que estava envolvido, assim como aos programas sociais nos EUA, como meio de neutralizar a agitação social.
Qualquer outro país que levasse a cabo tal política económica e financeira, entraria depressa em insolvência, ou seja, na bancarrota. Mas, os EUA possuíam a moeda de reserva mundial e podiam imprimir todos os dólares que precisavam, sem qualquer correspondência em aumento de produtividade. Depois, esses dólares serviam para pagar as matérias-primas e os produtos industriais importados;  eram absorvidos no mercado mundial. Todos os países, amigos ou hostis, tinham que ter reservas em dólares e comerciar em dólares. De uma forma direta ou indireta, estavam a nutrir o sistema do petrodólar.
O declínio do valor do dólar não é muito visível, superficialmente. Isto, deve-se ao facto de que os mercados de divisas e financeiros preferem adquirir dólares, como «moeda-refúgio», quando o sistema está em crise. Assim, as outras divisas vão descer e os dólares vão subir, na corrida para adquirir dólares e ativos denominados em dólares.
Porém, nos últimos tempos, as quantidades de dólares produzidas têm excedido tudo o que anteriormente tinha sido feito. O resultado, é que a capacidade aquisitiva do dólar (e das outras divisas) diminui  aceleradamente. Isto traduz-se por níveis muito mais elevados de inflação, em relação aos cerca de 2% de inflação, nas duas primeiras décadas do século XXI.
A partir de 2020, houve uma aceleração do «quantitative easing», ou seja, da produção de dólares sem contrapartida na economia real. Por outro lado, intensificou-se a utilização de moedas nacionais em detrimento do dólar, sobretudo, nas trocas e nos acordos de longo prazo entre países dos BRICS.
Nos EUA, a inflação vai ser cada vez maior e isto vai afetar a economia. Está já a acontecer, apesar da FED ter revertido o programa de impressão monetária e faça «quantitative tightening», ou seja,  sobe as taxas de juros, o que aumenta o custo do crédito.
Como os EUA já não possuem produção industrial própria, que lhes permita satisfazer as necessidades internas e atingir o equilíbrio nas contas externas, o único instrumento de que a FED dispõe é irrisório e, mesmo, contraproducente: Aumentar ou reduzir o dinheiro em circulação não vai realmente aumentar ou reduzir o consumo e, muito menos, a produção interna de bens.
Os bens materiais - matérias primas, produtos industriais, alimentos - vão continuar a ser importados do resto do Mundo para os EUA, mas com preços mais elevados, agravando a inflação e arrastando a subida acentuada dos juros, como já se está verificando. As «elites», no Departamento do Tesouro ou na FED, que manipulam as taxas de juro, são incapazes de mudar esta realidade.



RECURSOS ENERGÉTICOS


Nas últimas duas décadas, os EUA começaram a produzir, em grande quantidade, petróleo e gás de xisto, através de fracking. Assim, o seu aprovisionamento em petróleo «convencional», sobretudo, o do Texas que estava já em declínio, foi complementado pelo aumento notável do petróleo produzido «de forma não-convencional». O nível de produção total de petróleo nos EUA acabou por ser semelhante, ou até um pouco maior, ao da Arábia Saudita. Mas isto tem custos muito pesados no ambiente e compromete o futuro. O tempo de vida produtiva dum furo, em zona de xisto, ronda os dois anos. Assim, têm de constantemente fazer novos furos, para manterem o nível de produção. Muitas áreas ficarão totalmente estéreis depois de esgotadas as reservas de petróleo e gás de xisto. A obtenção de petróleo a partir de areias betuminosas, em Alberta (Canadá) e o seu transporte por pipeline para os EUA, também não será solução duradoura e respeitadora do ambiente.
Quanto ao sector das energias renováveis, nota-se que existe muito atraso técnico nos EUA em relação a estas tecnologias. Talvez a única exceção seja a indústria dos automóveis movidos a eletricidade, «EV». Mesmo neste caso, parece que a China está a tomar a dianteira; há indicações disso, tais como as  fábricas e a importância dos investimentos da Tesla na China. Por outro lado, há marcas de automóveis «EV» chinesas nos mercados asiáticos, e que podem conquistar fatias de mercados da Europa e dos EUA.
A rede elétrica nos EUA está decadente e os investimentos em infraestruturas tardam. As empresas privadas de energia elétrica ficam á espera que o Estado ponha a rede em condições, para elas depois operarem com menos custos. Muitas vezes são noticiados «apagões» (falhas gerais de energia elétrica), em cidades e regiões dos EUA. São devidos ao estado vetusto dos sistemas transportadores de energia elétrica e à sobrecarga destes. Não vejo que haja vontade política para solucionar o problema. Nos EUA, há um défice enorme de intervenção estatal, para satisfazer as necessidades coletivas.
Uma fragilidade de que se fala muito pouco, é do enriquecimento de urânio para as centrais nucleares americanas; este enriquecimento faz-se ... na Rússia! Não se compreende como é que eles irão operar as suas centrais nucleares se a Rússia, em retorsão dos roubos (de ouro, de contas bancárias...) e sanções brutais a que tem sido sujeita, decidir parar o fornecimento do urânio enriquecido.
Um outro sintoma claro da fragilidade dos EUA no setor energético é o facto de quererem retomar o «business as usual» com a Venezuela de Maduro. Isto, depois de terem feito tudo para o derrubar. Apesar da elevada produção global e de serem exportadores, os EUA têm défice  de petróleos «pesados» (do tipo dos petróleos venezuelanos), enquanto têm excedentes de petróleos «leves», resultantes da exploração do xisto.
O aprovisionamento da frota dos EUA no Mediterrâneo em apoio a Israel, neste momento experimenta dificuldades logísticas, de que se fala pouco. Os porta-aviões e os vários navios da marinha de guerra têm de ser abastecidos em  combustível nos portos de Itália do mar Adriático, tendo de fazer um constante vai-e-vem entre as costas de Israel e as do Adriático.
Também o roubo do petróleo sírio desde há vários anos, é outro caso sintomático. Os americanos instalaram-se em território sírio, com o pretexto de apoiar guerrilhas curdas que eles enquadram, subsidiam e treinam. O roubo do petróleo sírio foi inicialmente beneficiar pessoalmente o filho de Erdogan, presidente da Turquia. Agora, fala-se menos disso, mas continua a ser contrabandeado e vendido a baixo preço. Além de ir para a guerrilha curda e para Al-Quaeda, o dinheiro obtido com esse contrabando serve para a manutenção de cerca de dois mil soldados americanos estacionados em bases ilegais, na Síria. Há vários antecedentes, em relação ao comportamento predatório do poder imperial dos EUA: Quando ataca uma nação e a ocupa, costuma pôr os recursos petrolíferos a render, para custear as operações de ocupação militar. Veja-se o caso do Iraque, assim como o da Líbia.

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

CRÓNICA (Nº17) DA IIIª GUERRA MUNDIAL: QUALQUER QUE SEJA O SEU RESULTADO ...

 ... NO IMEDIATO, O SISTEMA ECONÓMICO E FINANCEIRO MUNDIAL irá sofrer um grande abalo; o «Cisne Negro» tão falado. 

Embora a situação estivesse a ser incubada desde há alguns anos, com a deriva direitista e fundamentalista do governo de Israel, «punindo» os árabes, fazendo incursões constantes na esplanada das mesquitas, em Jerusalém, incluindo no interior da mais importante, a mesquita de Al-Aqsa

O propósito dos sionistas é (desde o princípio da proclamação do Estado de Israel e mesmo antes) expulsar o máximo de árabes, de forma a que o território da Palestina seja exclusivamente povoado por judeus. Este é o seu objetivo declarado. Porém, o mundo árabe está cada vez mais saturado da arrogância do Estado de Israel e compreende que as nações árabes estão em vantagem, se houver unidade entre elas. Mas, quanto às consequências desta guerra, qualquer que seja o seu desfecho, sempre trágico para as vítimas civis palestinianas e israelitas, estas são totalmente previsíveis:

- Uma subida do preço internacional do petróleo

- O acentuar da fratura do mundo em dois blocos assimétricos: o chamado Ocidente, ainda com a maioria do capital financeiro, mas com uma minoria populacional; e os países do Sul, cada vez mais próximos dos BRICS e do eixo Moscovo-Pequim- Teerão    

          

- Um acentuar da inflação alimentar, sobretudo no Terceiro Mundo, e sua maior dependência das exportações de cereais da Rússia. Um aprofundar das relações recíprocas dos países dos BRICS+ e dos países candidatos, ou com boas relações com aqueles.

- A venda, em maior quantidade, de bonds do Tesouro dos EUA, que funcionam como a forma habitual de armazenamento dos dólares, pelos diversos países (a chamada de-dolarização). Estes bonds acabam por ser adquiridos pelo próprio Tesouro dos EUA e/ou pelo Banco central, a Fed, chegando-se rapidamente a uma situação como no Japão; o banco central japonês é o único comprador de bonds do governo. 

A inflação também vai ser maior nos EUA (e restantes países da OTAN). A capacidade dos EUA exportarem a inflação, como o fizeram até agora, vai estar diminuída.

- Vai haver aceleração das trocas comerciais entre países, não usando o dólar. Até agora estavam estes intercâmbios limitados aos países dos BRICS e a outros, sujeitos a sanções brutais pelos EUA. Agora, vai haver muito mais trocas comerciais usando as divisas dos países respetivos e os défices na balança de transações serão compensados por transferências de ouro.

- A crise será mundial e múltipla (económica, financeira, monetária, política e social): Nenhum país ou conjunto de países, sairá vencedor. No entanto, os países que têm algo de sólido a oferecer, como matérias-primas ou produtos industriais, vão sofrer relativamente menos do que os que se financeirizaram, ao longo dos últimos 30 a 40 anos. Estes (EUA, Europa ocidental) já não são viáveis sem a drenagem constante de energia, matérias-primas e força de trabalho dos países do Terceiro Mundo. 

-Se não houver escalada nesta guerra,  que desembocaria fatalmente no uso de armamento nuclear numa fase ou noutra da mesma, o Mundo irá transitar para nova configuração geopolítica, a multipolaridade, o que não significa igualdade entre as nações, mas abre a possibilidade dos mais fracos jogarem com várias hipóteses de alianças.


domingo, 17 de setembro de 2023

JOHN HELMER: ANGLO-AMERICANOS REPETEM ERRO FATAL DE NAPOLEÃO*



Oiça o podcast (ver link em baixo) de «Gorilla Radio» (Chris Cook), com John Helmer e Dave Lindorf. 

Compreenda as analogias e diferenças: O resultado é semelhante. É essencialmente o mesmo erro estratégico, apesar das diferenças de pormenor.

 https://gorilla-radio.com/2023/09/14/gorilla-radio-with-chris-cook-john-helmer-dave-lindorff-september-13-2023/

John Helmer é o mais antigo correspondente ocidental em Moscovo. Ele é o autor do blog «Dances With Bears»


(*) Comentário de Manuel Banet:

 Alguns leitores poderão achar insólito o título, pois pensam que quando os autores se referem ao erro fatal de Napoleão, estão a evocar a invasão pelas tropas imperiais francesas, da Rússia em 1812. Sem dúvida, que esse foi um grande erro, mas «motivado» pelo fracasso do (grande) erro anterior, a saber, «o sistema continental». Tratava-se de um bloqueio ao comércio britânico que tinha de ser cumprido por todos os aliados e «neutros», obrigados a rejeitar a entrada nos portos dos navios de comércio britânicos, inviabilizando toda a espécie de comércio de bens manufaturados e matérias-primas, muitas vindas do ultramar (Ásia, América, África...). Este «diktat» de Napoleão sobre todas as potências europeias continentais, cedo se tornou um fracasso. O comércio continuou sob forma ilegal, com explosão do contrabando, especialmente, nas zonas costeiras mais propícias. Os russos, apesar de batidos repetidas vezes pelos exércitos imperiais e assinarem a «paz de Tilsit», na qual o Czar Alexandre I aceitava o «sistema continental», a verdade é que o volume de contrabando de mercadorias inglesas era imenso. Napoleão, vendo que tinha decretado algo impossível de fazer cumprir, tomou este «desrespeito» do bloqueio das mercadorias inglesas, como pretexto para a invasão da Rússia. 

A analogia com os dias de hoje é que os anglo-americanos queriam forçar um banimento de toda a frota comercial russa, assim como um severo controlo e limitação nos preços do petróleo russo exportado, mas não conseguiram nada disso. Logo que as sanções foram decretadas, os russos desenvolveram novas rotas, por vias marítimas seguras, bordejando o mar Ártico, a Coreia do Norte e a China, de forma a escoarem e receberem toda a espécie de mercadorias, incluído as suas exportações de petróleo. De tal maneira a situação se tornou favorável, que os preços do petróleo têm subido muito acima do «teto» imposto pelas potências da OTAN, aos países amigos ou inimigos. Quem tem beneficiado muito são vários potentados petrolíferos do Golfo, os quais compram discretamente petróleo russo, com desconto, para o venderem depois, como se fosse deles e realizando um confortável lucro. Também a Índia tem beneficiado dos descontos, que lhe permitem sustentar a sua economia, tal como muitos outros países em desenvolvimento.

No caso presente, não existe uma guerra naval (ainda), nem houve um «Trafalgar», a vitória naval britânica que destruiu para sempre as ambições de domínio francês nos mares. Porém, os anglo-americanos falharam redondamente nas sanções e bloqueios que queriam impor, não só aos russos, como a quaisquer países que desejassem comerciar com eles. Dois anos depois, os resultados estão à vista: foi um imenso fiasco, que só desorganizou e debilitou os países da OTAN, subjugando inteiramente a UE à vontade imperialista americana.


domingo, 10 de setembro de 2023

SANÇÕES AMERICANAS, GUERRA ECONÓMICA E POR PROCURAÇÃO CONTRA A RÚSSIA E CHINA

 As sanções americanas e ocidentais contra os gigantes euro-asiáticos foram um fracasso, que hoje até as entidades oficiais e os media corporativos, reconhecem. Mas, a extensão do fracasso tem sido tão grande, que se pode dizer, em relação a várias instâncias, que tiveram um efeito boomerang. Ou seja, os países sancionados, boicotados, tornaram-se mais fortes, mais resilientes, mais capazes de desenvolvimento autónomo. Quanto aos países europeus, tornaram-se mais dependentes dos EUA, tanto na energia, como no armamento, fazendo com que a política europeia se tenha transformado de um jogo de vassalos (os chefes de estado e de governo, em relação aos EUA) para uma posição de servidão (= impossibilidade de escapar à subordinação). É este o único resultado «positivo» para o Império Yankee. 

Visione-se estes dois documentários abaixo, falados em francês. São muito completos e rigorosos nos dados e permitem ver - por contraste - como a media corporativa ocidental tem  ocultado ao público, minimizado, distorcido esses factos para manter a narrativa favorável aos governos belicistas da OTAN.






sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

CRÓNICA (Nº11) DA III GUERRA MUNDIAL: EUROPA NA ENCRUZILHADA



 Ao Imperador do Ocidente e à sua corte americana, só lhes interessa uma Europa submissa. Têm um conjunto de vassalos, os quais têm de vigiar e manter alinhados, nessa «prisão dos povos» que se designa por OTAN. 

A perversidade da classe dirigente dos EUA pode ser ilustrada pelas medidas que tomaram para reerguer a indústria americana: Os planos implicam claramente tornar a indústria europeia não-competitiva, proibindo-a de comerciar com a Rússia, obrigando-a a fazer a (súbita) reconversão para uma economia de guerra, a suportar todo o esforço humanitário desde quase há um ano, a enorme vaga de refugiados, para os quais não há possibilidade real de integração, e cuja permanência nos países da Europa Ocidental se prevê não seja transitória, perante uma Ucrânia em ruínas, despovoada e falida. 

Para completar o quadro, os europeus estão destinados a comprar petróleo e gás ao preço de mercado, enquanto outros países, competidores industriais (China, Índia e outros participantes nas Novas Rotas da Seda) têm o fornecimento garantido pela Rússia, pelo Irão e pela Venezuela, com um grande desconto (30% abaixo do preço de mercado), da energia de que necessitam. 

A Europa vai encontrar-se, a breve trecho, sem capacidade de competição industrial: não só no que toca à energia, também na ausência de acesso a matérias-primas industriais. Além disso, cada vez mais com uma população envelhecida e onde os trabalhos mais duros mas indispensáveis, têm sido feitos graças a sucessivas ondas de trabalhadores imigrantes.  

Os países europeus ocidentais ficam destinados a serem como uma espécie de «museu vivo» com «parques temáticos» dos séculos passados. O turismo e atividades conexas serão fonte de emprego (direto ou indireto) para dois terços da população. O restante terço da população ativa, será «convidado» a emigrar ou integrará o aparato repressivo (polícia, exército, vigilância). 

Note-se que nos EUA se sabe quando o reino da abundância do petróleo/gás de xisto chega ao fim. Quando estiverem perto desse ponto, o governo dos EUA irá garantir que o consumo interno tenha a prioridade. Os europeus, que se forneçam de gás e petróleo noutro sítio! 

Provavelmente, serão fortemente pressionados a abrir poços nas regiões xistosas europeias, para daí extraírem petróleo e gás. Ou então, vão tentar funcionar à base de energias «renováveis», ou seja, intermitentes. «Fantástico», dirão os «ecologistas da treta» mas - entretanto - a Europa reverteu a um modo de vida «medievo»: Isso não prejudica o «realismo» das  «Euro- Disney» que se irão multiplicar como cogumelos. 

É tudo uma questão de opção: ou os europeus, como carneiros, vão seguir a classe política narcísica, que prefere enterrar os seus povos num futuro de subdesenvolvimento e dependência,  ou  abrem os olhos, deixam de ficar hipnotizados, cheios de medo e sacodem o jugo.

O futuro está em aberto: Se as pessoas quiserem, podem inviabilizar o cenário acima traçado. Ainda vão a tempo. Mas, têm de abandonar as ilusões da viciosa propaganda dos governos, dos partidos de poder e de toda a media corporativa, que mantêm os povos numa espécie de estado infantil.

domingo, 1 de janeiro de 2023

FUNDO SOBERANO RUSSO AUTORIZADO A SUBIR PERCENTAGEM DE YUAN ATÉ 60%

 https://www.reuters.com/markets/currencies/permitted-share-chinas-yuan-russian-wealth-fund-doubled-60-finmin-2022-12-30/


A Rússia foi exposta a uma severa guerra de sanções, que começou pouco depois do golpe de Estado pró-ocidental de Maidan, em 2014. Porém, com a invasão russa da Ucrânia, os países do Ocidente, liderados pelos EUA, fizeram uma brutal (e obviamente ilegal) confiscação dos fundos em divisas, presentes nos bancos ocidentais e pertencentes ao Banco Nacional da Rússia (o banco central, detentor de ouro e divisas em reserva) confiscando também os bens de pessoas individuais, apenas por serem russas.
Face a esta atitude de extrema hostilidade dos poderes ocidentais, a reação da Rússia foi totalmente previsível: Desfazer-se das divisas de países hostis, que tinham tido parte nesse roubo. Cerca de metade das reservas em divisas estrangeiras da Rússia, as que se encontravam em bancos ocidentais, foram «congeladas», mas - na realidade - com a intenção de nunca mais as devolverem, pois a UE e os EUA têm estado a fazer planos para «reconstrução da Ucrânia», utilizando os fundos russos «congelados» (ou seja, roubados).
Naturalmente, surge agora a decisão de aumentar para o dobro a participação de ouro (de 20 para 40%) e de yuan (de 30% para 60%) permitidos para esse fundo soberano nacional da Rússia. Sem dúvida, os países hostis à Rússia não poderão esperar um qualquer interesse da Rússia em (continuar a) exportar energia (gás natural e petróleo) para eles. Terão de se abastecer junto de outros, no mercado internacional.
A estratégia deles, países ocidentais, querendo impor ao mundo um preço máximo sobre o petróleo, falhou redondamente com o «não» da Arábia Saudita e dos países da OPEP.


Mas, note-se, este desfecho inicia uma nova era, onde as economias dos dois blocos - euroasiático e «atlântico» - estão praticamente divorciadas, a própria China estando mais interessada em exportar para países seus amigos, do que para seus adversários geopolíticos que têm designado (oficialmente) a China como a principal ameaça.
Mesmo que a guerra russo-ucraniana acabe e se estabeleça num acordo de paz, é muito provável que se mantenha a partição entre o domínio do «yuan-ouro», ou seja, onde as notas de crédito em yuan (incluindo as de pagamento da energia) sejam convertíveis em ouro; e a «zona dólar», com os EUA e seus aliados anglo-saxões (Reino Unido, Austrália, Canadá Nova Zelândia), assim como a União Europeia (quase todos, membros da OTAN). Note-se que as zonas monetárias vão estar imbricadas: Existirão países no «Ocidente», que continuarão a ter boas relações com o Eixo Euroasiático, tais como o Brasil (membro dos BRICS), a Venezuela, a Argentina e outros da América Latina e Caraíbas. O mesmo, em relação a muitos países, antes tidos como pró-ocidentais, nos continentes Asiático e Africano. 
Por outro lado, do Extremo Oriente ao Médio Oriente, por maior que seja o crescimento do comércio com a China, através das Novas Rotas da Seda, muitos países quererão manter boas relações com os EUA e o Ocidente, aos níveis económico e militar (armamento, sistemas de defesa, treino de tropas e cooperação em informação e espionagem,...).
Note-se também, que o Mundo, no decurso da 1ª Guerra Fria, experimentou severas restrições ao comércio internacional. Mas, o nível de sanções agora atingido, é tal que a chamada globalização vai apenas ser uma memória do passado. Com o comércio internacional sendo severamente atingido, haverá necessariamente um empobrecimento global. Isso irá também afetar todos os países que pretendem manter-se neutrais.
Creio que vai durar e ser muito significativo, dentro do conjunto de decisões monetárias, económicas e de defesa, o efeito desta decisão do Fundo Nacional russo. Vai estender-se muito para além do ano de 2023, que agora começa.
A guerra entre a Ucrânia (apoiada pela OTAN) e a Rússia, é um momento infeliz e transitório desta guerra mundial híbrida (a IIIª Guerra Mundial). Porém, tudo indica que esta medida não é de simples retaliação, face às sanções massivas dos países ocidentais: Será antes um mudar definitivo de rumo da Rússia, não apenas em termos de política monetária, mas também económica e geoestratégica.




segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

ENTREVISTA COM O PROF. MICHAEL HUDSON (PARTE I)

Da última vez que falámos foi para o magazine alemão "Four" em junho.  Agora também trabalho para a MEGA Radio, uma estação rádio de notícias para a Alemanha, a Áustria e a Suíça. Emitimos a partir de Viena e estamos localizados em Berlim, Baviera e Áustria.

Gostaria de o convidar para uma entrevista, a gravar no ZOOM, para o programa de rádio. Seria uma atualização da nossa última entrevista. Talvez tenha uma duração de 20-30 minutos.

O leitor, que veja também a nossa conversa anterior.

Aqui estão as minhas perguntas:

(1.) Fez algumas previsões na nossa entrevista para o magazine «Four» que se realizaram.

Falou sobre a crise das companhias alemãs em relação à produção de fertilizantes.  Esse assunto ocupou as primeiras páginas poucas semanas após a nossa entrevista.

Também afirmou:  “O que caracteriza o bloqueio do Nord Stream 2, é realmente a política de comprar americano." Isto tornou-se agora mais do que claro após a destruição dos gasodutos Nord Stream.

Poderia comentar sobre isso?

MH: A política exterior dos EUA tem-se concentrado, há bastante tempo, no comércio de petróleo internacional. Este, é decisivo como contributo para a balança de pagamentos dos EUA e o seu controlo dá aos dirigentes dos EUA a capacidade de impor estrangulamentos noutros países.

O petróleo é um fornecedor chave de energia e o crescimento da produtividade e do PIB das economias principais tende a refletir o aumento de energia usada por trabalhador.  O petróleo e o gás não são apenas para serem queimados, produzindo energia, mas também são uma matéria-prima química básica para os fertilizantes e, portanto, para a produtividade agrícola, assim como para boa parte da produção dos plásticos e doutros produtos químicos. 

Por isso, os estrategas dos EUA reconhecem que cortar os países do petróleo e seus derivados irá bloquear a sua indústria e agricultura. A capacidade de impor tais sanções pode permitir que os EUA tornem os países dependentes das suas políticas como meio para não serem «excomungados» do comércio de petróleo.

Os diplomatas dos EUA têm estado a dizer à Europa, desde há muitos anos, para esta não se basear no gás e petróleo russos. O objetivo é duplo: por um lado impedem um fator decisivo para o superavit comercial da Rússia e, por outro, capturam o vasto mercado europeu para os produtores americanos de petróleo e de gás. Os EUA convenceram os dirigentes governamentais alemães a não aprovar o gasoduto Nord Stream 2 e finalmente, usaram a desculpa da guerra da OTAN com a Rússia na Ucrânia para atuarem unilateralmente e conseguirem sabotar os gasodutos 1  e 2 do Nord Stream.

(2.) Para o nosso público:  No seu novo livro “The Destiny of Civilization: Finance Capitalism, Industrial Capitalism, or Socialism”,

...postula que a economia mundial está a fraturar-se em duas partes, os EUA e a Europa, na sua parte dolarizada

...e que esta unidade neoliberal ocidental está a levar a Eurásia - e a maior parte do Sul Global - para um grupo separado. Acabou de afirmar isso numa entrevista dada em Novembro.

https://michael-hudson.com/2022/11/the-rentier-economy-is-a-free-lunch/

Poderia explicar isso para o nosso público?

MH:  A separação não é apenas geográfica, mas sobretudo reflete o conflito entre o Ocidente neoliberal e a lógica tradicional do capitalismo industrial. O Ocidente des-industralizou as suas economias ao substituir o capitalismo industrial pelo capitalismo financeiro, inicialmente na procura de conseguir manter salários baixos e depois ao tentar e estabelecer privilégios de monopólio e mercados cativos, ou ainda elementos essenciais de tecnologia, das armas (e agora de petróleo), transformando-se em economias de rentistas.

Há um século, o capitalismo industrial estava no ponto de evoluir para o socialismo, com os governos a fornecer as infraestruturas básicas (tais como sistemas de saúde, de educação, comunicações, investigação e desenvolvimento) para minimizar o custo de vida e a proporcionar os negócios. Aquilo que são hoje os EUA, a Alemanha e outras nações, construíram desse modo o seu poder industrial, o mesmo que a China e outros países euro asiáticos têm estado a fazer mais recentemente.

Mas a escolha do Ocidente de privatizar e financeirizar a sua infraestrutura básica, desmantelando o papel do governo e entregando a planificação a Wall Street, à City de Londres e a outros centros financeiros,  deixou-os com pouco para oferecer a outros países - salvo a promessa de não os bombardear ou a tratá-los como inimigos, caso eles procurem criar riqueza por suas próprias mãos, em vez de a transferirem para os investidores dos EUA e de corporações internacionais.

O resultado é que, quando a China e outros países constroem as suas economias de modo idêntico ao que os EUA fizeram, desde  o pós Guerra Civil, até à IIª Guerra Mundial, são considerados como inimigos. É como se os diplomatas dos EUA vissem que o jogo está perdido e que a sua economia se tornou tão dependente da dívida, privatizada e com elevados custos de produção, que só esperam conseguir fazer que os outros países sejam seus tributários, dependentes enquanto for possível, até que o jogo chegue ao fim.

Se os EUA conseguirem impor o neoliberalismo financeiro no mundo, então as outras nações acabarão por ter os mesmos problemas que os EUA estão a sofrer.

(3.) Agora os primeiros terminais para gás liquefeito ( LNG) dos EUA estão abertos. Como é que isto afetará o comércio e a dependência /interdependência entre a Alemanha e os EUA? 

MH: As sanções dos EUA e a destruição de Nord Stream 1 e 2 tornaram a Europa dependente dos fornecimentos dos EUA, a um custo tal para o gás LNG (cerca de seis vezes o que os americanos e asiáticos pagam), que a Alemanha e outros países perderam a sua capacidade em competir no aço, no vidro, no alumínio e noutras manufaturas. Isto cria um vazio, que as empresas com sede nos EUA vão preencher com o seu investimento a partir de outros países, ou até dos próprios EUA.

A expectativa é que as indústrias pesadas, químicas e outras da Alemanha e doutros países europeus  tenham de se mudar para os EUA para conseguir petróleo e outros componentes essenciais, que lhes dizem para não comprar na Rússia, no Irão ou noutras alternativas. Assume-se que elas - indústrias europeias - não possam localizar-se na Rússia ou Ásia, pela imposição de sanções, multas e ingerências nas políticas europeias, pelos EUA.  Existem ONGs e satélites da «National Endowment for Democracy», como tem sido o caso desde 1945. Pode-se esperar uma nova Operação Gládio para promover os políticos que desejam manter esta nova Fratura Global e reorientar a indústria europeia para os Estados Unidos.

Uma questão é se o trabalho especializado alemão irá a seguir. Isso é aquilo que acontece tipicamente em tais circunstâncias. Este tipo de redução demográfica foi experimentada pelos Estados Bálticos. É um efeito colateral às políticas neoliberais.

(4.) Qual a sua visão sobre a situação militar atual na guerra Rússia/ Ucrânia? 

MH: Dá ideia que a Rússia irá facilmente vencer em Fevereiro ou Março. O que irá provavelmente criar uma zona desmilitarizada para proteger as áreas russófonicas (provavelmente, incorporadas na Rússia) do Ocidente pró-OTAN em ordem a prevenir sabotagem e terrorismo. 

Á Europa, irão continuar a obrigá-la a boicotar a Rússia e os seus aliados, em vez de procurar obter trocas mutuamente vantajosas por comércio e investimento recíprocos.  O EUA poderão incentivar a Polónia e outros países, a lutarem até ao último polaco ou lituano, à semelhança da Ucrânia. Isto irá pressionar a Hungria. Mas, antes de mais nada, haverá insistência para a Europa gastar somas imensas para se rearmar, sobretudo com armas dos EUA.  Estes gastos irão excluir muitas das despesas sociais, para que a Europa consiga suportar o aprofundamento da depressão industrial, ou distribuir subsídios para fazer reviver a sua indústria. Portanto, será crescentemente uma economia militarizada - ao mesmo tempo que a dívida dos consumidores e das empresas industriais vai aumentando, a par da dívida do governo.

Enquanto isto ocorrer, pode a Rússia decidir que a OTAN se deve retirar para as suas fronteiras de 1991. Este será, muito previsivelmente, um ponto de conflito.

(5.) Qual é sua opinião sobre a situação financeira nesta guerra.  O G7 e os governos da UE já falam de reconstruir a Ucrânia após a guerra. O que significa isso para os capitalismos de negócios e financeiros do Ocidente?

MH: A Ucrânia dificilmente poderá ser reconstruída. Antes de mais, muita população partiu e não é provável que regresse, dada a destruição de habitações, de infraestrutura ... e de maridos. 

Segundo, a Ucrânia é principalmente propriedade dum pequeno grupo de cleptocratas - que estão disponíveis para vender essa propriedade a investidores ocidentais da agricultura e a outros abutres (penso que sabe a quem me refiro).

A Ucrânia está já atolada em dívida e tornou-se um feudo do FMI (o que significa, na prática, da OTAN). Será pedido à Europa para «contribuir» e as reservas do Banco Central Russo apreendidas podem ser gastas a contratar companhias dos EUA, que irão fazer um negócio ótimo em fingir que estão a recuperar a economia da Ucrânia - deixando o país ainda mais enterrado em dívida.

Um novo Secretário de Estado do Partido Democrata irá fazer eco a Madeleine Albright, dizendo que a morte da economia, das crianças e dos soldados da Ucrânia «mereceram totalmente a pena», enquanto custos para espalhar a democracia ao estilo dos EUA. 

(continua, veja Parte II)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

SÍRIA: SANÇÕES SÃO EFICAZES... PARA MATAR INOCENTES!!

 https://www.mintpressnews.com/secret-reason-us-still-syria/282879/

É curioso, várias pessoas que se dizem preocupadas com os direitos humanos, não serem capazes, muitas delas, de levantar a voz e fazer sentir aos poderes que não são coniventes com o morticínio coletivo que «o democrático Ocidente» aplica a muitos países que não se conformam com a SUA ordem. Refiro-me a Cuba, Venezuela, Irão, Síria e outras nações, cuja população é vítima das bárbaras sanções que impendem sobre ela. No caso da Síria, é particularmente nojenta a posição dos americanos e «aliados»: Sabem perfeitamente que estão a roubar o petróleo sírio; sabem que estão a perpetuar sanções injustas, que apenas mantêm a miséria no povo. Será esse o objetivo? As próprias Nações Unidas, através das suas estruturas oficiais, tem denunciado a política de sanções como sendo uma forma de genocídio. 

Os responsáveis nazis alemães foram punidos (justamente) após a IIª Guerra Mundial, por tomarem populações de aldeias como reféns e aplicar-lhes castigos coletivos, por elas terem  (alegadamente) abrigado resistentes. Estas odiosas formas de castigo coletivo foram decretadas como crimes de genocídio. 

Como classificar os crimes de americanos e seus «aliados» na Síria (e noutros países alvo de sanções) que provocaram, segundo as vozes insuspeitas de agências da ONU, muitas dezenas ou mesmo centenas de milhares de mortes?

- A continuada e massiva aplicação de sanções contra populações inocentes, é uma forma de genocídio.

O discurso oficial do governo dos EUA é uma constante demonstração de hipocrisia.

domingo, 3 de julho de 2022

segunda-feira, 16 de maio de 2022

FIM DA HEGEMONIA DO DÓLAR ?




Este programa de George Galloway é o que - ultimamente - posso encontrar de melhor e mais honesto em termos de pensamento plural, anti-capitalista, anti-imperialista. Os seus intervenientes são pessoas cultas e defensoras de uma alternativa socialista, no sentido lato do termo.

 Será o Dólar a chave para a hegemonia US? 
- Mas, na realidade, a questão traduz-se em avaliar com cuidado, sobre a natureza da hegemonia US. Com efeito, não se pensa na hegemonia do dólar nas operações financeiras apenas mas, sobretudo, na facilidade com que os EUA podem decretar sanções contra países e regimes que  não sejam do seu agrado. 

Esta discussão inclui o Dr. Francisco Rodriguez (perito em economia política, Middlesex Univ.), Shabbir Razvi (analista económico e político), Prof. Michael Hudson (através de link vídeo a partir de Missouri, USA), Clive Menzies (investigador em economia política) e Prof. Steve Keen (australiano, via ligação vídeo de Bangkok).

 

quinta-feira, 24 de março de 2022

CRÓNICA (nº4) DA TERCEIRA GUERRA MUNDIAL - ECONOMIA, O NERVO DA GUERRA






 É atribuída a Napoleão a expressão de que «o dinheiro é o nervo da guerra». Ou, por outras palavras, é o fator que mais importa, numa guerra. O facto continua a ser verdadeiro, hoje. Embora as guerras do século XIX sejam tão diferentes, em muitos outros aspetos, das guerras atuais. Para não irmos demasiado longe, as guerras levadas a cabo pelo império Yankee, apenas no século XXI, tiveram todas elas uma forte componente económica por detrás:

- Antes de mais, a necessidade de vender equipamento militar, incluindo novos armamentos, que a indústria de guerra americana constantemente produz. O lobby da indústria dos armamentos é um dos mais poderosos com influência muito vasta em Washington; 

- O acesso às matérias-primas e fontes de energia: O Afeganistão possui recursos minerais cobiçados por multinacionais, o Iraque, a Líbia, a Síria e o Iémen têm petróleo. O controlo das matérias-primas estratégicas, assim como dos combustíveis fósseis, é considerado um argumento válido para se fazer a guerra, para os falcões que enxameiam os estados -maiores e «think-tanks» da NATO. Lembro-me que, do lado americano, por alturas da invasão do Iraque, argumentavam que a  «guerra se pagaria a si própria» com as «royalties» do petróleo. Estas, seriam vertidas nas contas dos EUA, como «indemnizações de guerra». 

Note-se que os americanos não tardam em tomar de assalto o banco central nos países invadidos e a roubarem o ouro. Na sequência do golpe da Maidan, ficaram com as toneladas de ouro do banco central da Ucrânia, à sua «guarda» e não o devolveram, nem nunca o farão. O mesmo com o Iraque, a Líbia e o Afeganistão

As motivações, na presente guerra Russo/Ucraniana, são mais complexas. Penso que o aspeto estratégico, na perspetiva russa, ultrapassa o aspeto económico, apesar deste estar presente, ao nível das sanções e contrassanções. Parece-me que estará fora das intenções dos russos anexarem a Ucrânia. Porque haveria, em tal hipótese, somente custos, sem quaisquer benefícios: Se ocupassem permanentemente a Ucrânia, teriam de reconstruir a sua economia, teriam de a sanear, visto ela ter sido profundamente depauperada em todos estes anos de corrupção. Eles querem apenas que a Ucrânia seja um Estado neutro, com um relacionamento normal e não hostil, com a vizinha Rússia. 

Aqui, jogam considerações geoestratégicas, joga também uma visão integrada do que se passa na esfera económica. Em vez de uma guerra para tomada de matérias-primas, ou outros recursos*, trata-se de uma guerra imposta pela pressão constante dos EUA/NATO, sobre as fronteiras da Rússia. Esta, não podia continuar a fazer de conta que não era grave para a sua existência, enquanto nação independente. A história da guerra atual deverá recuar, pelo menos, a 1991. Deverá registar e analisar as muitas peripécias dramáticas e trágicas, incluindo o golpe de Maidan.  Além disso, em todos os anos do Século XXI, os EUA e seus aliados estiveram envolvidos diretamente, ou através de forças por eles apoiadas, em guerras regionais. 

Na perspetiva russa, a possibilidade da NATO incluir oficialmente a Ucrânia - já com extensa colaboração com a NATO - implicava o risco de que os russófobos mais extremos tivessem acesso a sofisticados mísseis e armamento nuclear. Com efeito, Zelensky na Conferência de Segurança de Munique de 2022, sugeriu que a Ucrânia deixaria de subscrever o acordo de Budapeste, segundo o qual a Ucrânia renunciava a possuir ou estacionar armamento nuclear. Por outro lado, a tresloucada declaração de Stoltenberg da NATO, com certeza incitada pelos americanos, de que a cada queixa russa, iram redobrar as forças e dispositivos da NATO, às fronteiras da Rússia, soou-me como uma declaração de guerra da NATO, como um momento funesto de húbris, de rejeição de qualquer abertura negocial e de provocação para o desencadear a guerra.  

A invasão da Ucrânia, pode-se pensar que foi uma má jogada de Putin. Porém, ela foi explicada ao povo russo e este - na sua imensa maioria - aceitou a explicação. Segundo Putin, não podia ser de outro modo, pois os americanos e a NATO estavam a tentar realmente «apontar uma arma à cabeça da Rússia». 

A guerra que se está a desenvolver tem muitos aspetos militares complexos. Um dos mais notórios, é as forças russas terem começado por neutralizar toda a força aérea, todas as defesas antiaéreas e toda a frota dos ucranianos. Depois, graças a uma penetração muito rápida no Leste, para bloquear qualquer tentativa de invasão dos territórios separatistas do Don, o exército russo cercou, em grandes áreas, o que eles chamam «caldeirões», as forças ucranianas. Estas, estavam concentradas no Leste (cerca de 75 a 60 mil homens), prontas a atacar as repúblicas autónomas de Donetsk e de Lugansk. Progressivamente, as forças russas fecharam o cerco e agora estão a encerrar o remanescente das brigadas ucranianas em «caldeirões» mais pequenos. Esta é a ação militar mais relevante, no terreno, pois estas forças ucranianas são a melhor parte do seu exército. 

A cidade de Mariupol, na costa do Mar de Azov, foi  cercada e, perante a resistência das tropas sitiadas, tem vindo a ser conquistada em lutas urbanas. Não há utilização maciça da força aérea, pois os russos não pretendem arrasar a infraestrutura. É isso que leva alguns agitados ocidentais a gritar que as forças russas estão a encontrar dificuldades. Querem alimentar a falsa esperança, de que as forças ucranianas conseguem contra-atacar. Mas, isto é completamente ilusório.

No caso de Kiev, é particularmente notório que a estratégia russa tem sido de poupar a capital, de poupar o próprio governo, pois precisam de ter interlocutores com quem negociar um cessar-fogo e uma paz. Se eles quisessem arrasar as urbes, não teriam qualquer dificuldade em fazê-lo. Como prova disso, basta notar como os mísseis certeiros, disparados de enormes distâncias, liquidaram centenas de mercenários em dois acampamentos, que se situavam perto da fonteira com a Polónia. 

O chinfrim sobre a «zona de exclusão aérea», era apenas propaganda dos mais extremistas da NATO, ou pró-NATO, sem substância alguma. Aliás, a impossibilidade de tal coisa, foi reconhecida pelo presidente Joe Biden. Se existe uma exclusão aérea, é aquela que os russos impuseram. Não há aeronave que possa cruzar o espaço aéreo ucraniano, sem ter autorização deles. 

O número de falsidades propaladas pela media ocidental sobre o desenrolar da guerra, é também aumentado pelas mais incríveis histórias que são reproduzidas, sem «fact-checking»: São meras peças de ficção, oriundas do governo ucraniano, ou dos seus partidários. Acossado em Kiev, o governo Zelensky não é autorizado, pelos americanosa negociar um cessar-fogo, só a arrastar as negociações. Os partidários do governo de Kiev fazem a «guerra informativa», já que perderam a guerra no terreno. É por demais evidente que os EUA e a NATO estão a assoprar os ventos da guerra, incitando à formação de legiões de mercenários e despejando armas de todo o tipo**. A esperança (vã) dos dirigentes dos EUA/NATO,  é que a guerra se prolongue, o mais tempo possível. Isto implicaria mais mortes (inúteis) e destruições avultadas. Eles esperam que haja uma espécie de guerrilha mas, de facto, estão completamente enganados. 

Não se trata do Afeganistão. Os russos conhecem muito bem o território e as gentes. Além disso, devem ter planeado a invasão com muita antecedência. Têm mostrado grande precisão no que toca à «inteligência militar»: Inúmeros depósitos de combustível, de munições, de partes suplentes para veículos do exército ucraniano, foram destruídos. O modo como as forças russas têm atuado, indica que querem sobretudo quebrar a resistência do exército. Para tal, manobram para cercar as forças militares ucranianas e depois bombardeiam até estas se renderem, ou ficarem fora de combate. Eles estão a evitar a tomada de cidades, com exceção de Mariupol e de mais duas ou três, de pequeno tamanho. Os russos querem evitar muitas baixas civis e grandes destruições. Tanto Kiev, como Kharkov, estão isoladas. Mas, não é um cerco total, há saídas possíveis, porque querem que o máximo de gente fuja destas cidades.  

Do ponto de vista técnico-militar, vários especialistas militares americanos têm dito que a guerra - para as forças ucranianas - está perdida. Isto, porque não existe a possibilidade duma unidade (uma divisão, ou brigada) se coordenar com outra. Só assim poderiam travar a ofensiva russa e desencadear uma contraofensiva. Os que agitam histórias fantasiosas «a favor» da Ucrânia, não estão a fazer favor nenhum à Ucrânia e às suas forças armadas. Quanto pior for o estado das forças armadas sobreviventes, no fim da guerra e quanto mais durar a sua resistência, sem benefício tático nenhum, pior serão as situações, militar e política,  futuras. Uma Ucrânia, como Estado independente, precisa de um cessar-fogo, de negociações e duma situação de paz. É isso que os imperialistas americanos mais temem: a paz. Pois, eles têm realmente uma visão imperial dos povos. O povo ucraniano só lhes serviu para desestabilizar a Rússia, esta é a sua obsessão. 

Creio que a Rússia está muito bem preparada para enfrentar o boicote, o embargo total pela Europa e pelos EUA; muito melhor do que estes jamais pensaram. A arrogância dos que se julgam (ainda!) donos do mundo, está levá-los a descolar completamente da realidade. As sanções contra a Rússia só têm fortalecido a aliança Sino-Russa. Contrariamente à mentira propalada no Ocidente, muitos países continuam a ter relações diplomáticas, comerciais e outras, com a Rússia. Pelo contrário, devido à vaga de sanções anti Rússia, o Ocidente já «garantiu» para si próprio, uma recessão severa que se irá abater, sobretudo, na Europa ocidental. 

Do ponto de vista global, tanto no plano económico, como das alianças políticas e militares, o bloco ocidental fica cortado de toda a espécie de trocas com mais de metade da população mundial e de boa parte das matérias-primas estratégicas. Perde também mercados importantes para seus produtos. Mas, o pior seria o seguinte: Se houver uma escalada de sanções contra a China e, em retaliação (muito provável),  cessarem as exportações chinesas para os EUA e Ocidente, será o golpe mais devastador para as nossas economias. 

A loucura dos dirigentes ocidentais deve-se ao seu sentimento de superioridade, a um racismo muito profundamente entrincheirado no seu subconsciente, que transmitem aos seus povos respetivos. Daí, a onda de histeria, que se observa agora nas populações ocidentais. Os que glorificam os dirigentes imperialistas ocidentais e demonizam Putin e o povo russo, os que mentem, não somente impedem que o público tenha uma imagem objetiva do que se está a passar; estão a ser coniventes de crimes. 

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(*)Embora, caso os russos capitulassem, os imperialistas iriam explorar os recursos riquíssimos da Rússia, tal como fizeram na era de Yeltsin e como têm feito no Terceiro Mundo.

(**) o perigo destas operações é que as armas vão parar ao mercado negro, as que não são destruídas pelos russos, assim que passam a fronteira. 

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PS1: Faço notar que o Mundo já estava a braços com uma crise profunda, a qual não foi causada pela guerra na Ucrânia, nem pela pandemia covidiana. Os media irão martelar que as subidas de preços, a escassez de bens essenciais, o desemprego e todo os males do mundo se devem exclusivamente à situação de guerra. Porém, a realidade dos mercados mundiais mostra-nos que o mesmo se passaria, quer houvesse, ou não, crise ucraniana, pois as raízes do mal são profundas e têm a ver com o sistema financeiro mundial. Leia o esclarecedor artigo de Egon von Greyerz sobre esta questão: 

https://goldswitzerland.com/all-hell-will-break-loose/

PS2: Publiquei sob o mesmo título genérico, «CRÓNICA DA TERCEIRA GUERRA MUNDIAL», os seguintes artigos neste blog: 

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial_0396436697.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial_13.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/cronica-da-terceira-guerra-mundial.html 

PS3: Em resposta à exigência russa de pagamento em rublos para as suas exportações de combustíveis, sobretudo gás, a UE estabeleceu contrato com os EUA para entrega de gás liquefeito LNG, em navios-cisternas. 

PS4: O vídeo AQUI coloca a questão da divisa de reserva (o dólar, até agora) e a sua relação com os sistemas de pagamento SWFT, o sistema CIPS, chinês e o significado das mudanças em curso.

PS5: Fala-se de «nova Guerra Fria» e do consequente aumento das despesas militares. Porém, nos piores momentos da Guerra Fria Nº1 (guerras da Coreia e Vietname), a despesa militar dos EUA foi menor do que AGORA !

https://consortiumnews.com/2022/03/25/warnings-for-washington-about-cold-war-2-0/

PS6:  Ontem o jornal britânico de grande tiragem Daily Mail confirmou a informação oficial russa, de que encontraram provas de que Hunter Biden estava envolvido no financiamento dos laboratórios secretos na Ucrânia, que efetuavam pesquisa aplicada de bio armas por conta dos EUA 

PS7: Falham-me as palavras, tal é o meu espanto! E o espanto é que a verdade vem pela boca de um tonto. Veja:

PS8: Uma exposição clara, em artigo de Joe Lauria, de Consortium news sobre os esforços de vários presidentes americanos para desestabilizarem a Rússia. As afirmações recentes de Biden, na Polónia e Bruxelas, são suficientemente transparentes. Se postas em contexto, não deixam dúvidas sobre qual a estratégia dos imperialistas de USA/NATO, para chegarem aos seus fins: Sanções, prolongamento da guerra na Ucrânia, desestabilização do regime russo, derrube de Putin, colocação de governo dócil e subjugação completa da Rússia, incluindo seu desmembramento.