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domingo, 5 de maio de 2019

SYMPHONIE FANTASTIQUE - HECTOR BERLIOZ




  1. Rêveries – Passions (Reveries – Passions) – C minor/C major
  2. Un bal (A Ball) – A major
  3. Scène aux champs (Scene in the Fields) – F major
  4. Marche au supplice (March to the Scaffold) – G minor
  5. Songe d'une nuit du sabbat (Dream of a Night of the Sabbath) – C major


Escrita em 1830, mostra a enorme distância estética percorrida nos primeiros decénios do século 19, desde o classicismo - que ainda triunfava nas últimas sinfonias de Haydn - até à libertação dos moldes clássicos, que representam tanto as sinfonias de Beethoven, como esta, de Berlioz.
Berlioz era realmente o que nós figuramos hoje em dia como o «romântico típico», apaixonado, excessivo, idealista, sensível. Mas, afinal de contas, o que mais surpreende é a imensa popularidade que esta obra teve ao longo dos séculos, mostrando que a música figurativa  ou programática consegue chegar muito mais facilmente às profundezas emotivas, subjectivas, dos indivíduos. Excertos desta sinfonia têm sido usados inúmeras vezes, para os mais diversos fins... desde o cinema até à publicidade.
Pessoalmente, tenho uma relação muito subjectiva com esta peça, que ouvi sempre com imenso prazer. Consigo descolar do aspecto descritivo, com tanto maior facilidade, quanto a primeira vez que a ouvi, era uma criança e não tinha a mínima ideia de que esta sinfonia «contava uma história». Apenas achava que era «fantástica», porque, de facto, as ondas sonoras imensamente variadas suscitavam, na minha imaginação, imensas sensações associadas, mantendo sempre a minha tenra alma desperta pela sucessão de temas, cada qual mais empolgante que o outro. Na sua sucessão de movimentos - cada qual entrelaçando variados temas, revestidos de timbres contrastados da orquestra - esta peça musical, na sua procura permanente de surpresa e de «pathos», é ainda hoje, para mim, um verdadeiro «banquete sonoro». 
É interessante conhecer a génese da obra e dos factos na vida passional do compositor, intrinsecamente ligados à Symphonie fantastique. Embora esteja convencido que isto não acrescenta nada à fruição da obra, em si mesma, este saber revela a componente humana do compositor. 

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

LISZT: VALSA DE MEFISTO e SINFONIA

                                     
                                        A grande qualidade de Valentina Lisitsa neste video

Pode-se apreciar a peça de Liszt (ver a notícia descritiva por baixo do vídeo) usufruindo a música por si mesma. 
Pode-se também evocar o drama do Dr. Fausto, uma das grandes narrativas lendárias do nosso tempo. Com efeito, se foi inventado ou adaptado de várias lendas populares por Marlowe, é algo intemporal, pois tem aquela vida própria dos grandes mitos que se podem adaptar a cada época. 

Uma das leituras mais marcantes da minha juventude foi o romance de Thomas Mann, uma adaptação da história de Fausto ao século vinte, pondo em cena personagens que são a síntese de muitos destinos individuais. 


                                         3º andamento da Sinfonia «Fausto» Hungarian State
                                         Concert Orchestra; János Ferencsik.

Mas o mito de Fausto pode igualmente ser associado a este princípio de século XXI: o mito de uma juventude eterna nunca foi tão espalhado. Pense-se no faustiano pacto de certos biólogos, que tentam - a todo o custo - conseguir a ruptura das fronteiras naturais da vida, tendo como objectivo final a vida humana. 

Igualmente, é neste capitalismo depredador, em fim de percurso, que são propostos «pactos com o diabo» a todos os que ele esteja interessado em seduzir. 
Nunca o poder do dinheiro foi tão grande, nunca foi tão férreo o seu reino, a meu ver. 
No futuro...
- ou se extingue a «lei» da sociedade baseada no dinheiro, tornando possível o florescer duma humanidade não desfigurada no seu âmago, 
- ou será a perda total do que resta desta civilização, transformando-se num mundo dominado pela oligarquia mais despiedada que possa existir e onde o resto da humanidade será escravizada. 



quinta-feira, 27 de julho de 2017

[OBRAS DE MANUEL BANET] «A... PASSA»

A… Passa*

Amor, duas palavras tem
          que ser.
Uma para dizer:
         “querer”
  e a outra
para responder:
        “Não”

Novo dia, nova luz
Ora s’alumia, naquela hora,
Senhora, deusa de Luz.

Des-i-lu-sões ... estão meus
Pensamentos cheios,
        Porque é que os devaneios
Têm freios nos pneus
                                 Meus?
           -Santo Deus,
vá deles saber
           as razões!

Se lá achara, aquela que foi
Na hora bela musa – soi.
Ó Sol, sozinho do meu
ninho em vinho se
                         foi?
Se lá achara, nela já lhe dois
Aquela dor grande vela
Mastro e caravela,
Queira vê-la
Se quereis...
                   Sóis!

Equação do vento
na lira:
Ler um tento,
Não se delira,
mas se tento
fazer a ira
da vontade cozer
os versos de frade
é por amor à verdade,
à verde idade
A ver (saudade)
O Largo da Trindade.
De Lisboa, só vem
Coisa boa...
Nos bailes de Sant’António
O seu demónio
paira à toa:
Os versos entoa
vertidos
em pira,
expira,
hélice
d’Alice...
Krakatoa!

Java, porém,
É mais além...
Trovejava
o Nepal
em sânscrito
inscrito
no rito.
Ir ou mito,
o que tem?
Que cantem!
Que digam, felizes:
Doidas perdizes
Deu-me um pagão!
...mas não se pagam
senão com pagem
na voragem
de um sermão.

Ser irmão do Sol,
nascente ou posto
de luz que na cruz
quebra o rosto:
- Do vinho, o mosto.
- Do pinho, o gosto.

Aposto:

            Um quarto de padrinho!
-          “Quieto, quietinho!”
diz o encosto.
-          “Aqui estou, sozinho!”
responde o bem-disposto
autor do presente
verbo demente:
       “Se mente
         a semente,
         não tente
         o potente
          agente
          do dente...
         a gente
        qu’ aguente!
        Já sente
        o pente
         rente
        ao rosto.

Sem cinta que sinta
a santa assenta
a venta na manta.

“Milagre!”
Diz o padre
mas que madre
se há de, no sabre,
dorir, dourada?

Dormir ou nada...
  Nevada, se surgir
Cevada ceifada
a fada de Fado.
Ó malfadado
verso embrulhado,
em chita ensarilhado!
-Não, Conchita,
o telhado
continua aferrolhado
pelo mau olhado
da conta.

                Ia nu, a ferros,
 Ao lado de uma tonta...
Ó Liberdade!
Ó Verdade!
Ó Beldade!
Mata-me depressa
morro-me com pressa
de voltar à puberdade.

Ideia louca
Louvada “Deia”
gentil me destes
a prazeres agrestes
e, com Orestes,
estás sempre prestes,
a despir as vestes...
Vem, não restes
no céu e aos terrestres
dá novos mestres!

                 Fiel labéu
De cão: “Afia-dente”

O que sente
um vidente?
É ponto assente
Que mente
... e no poente
mui contente,
o Sol ardente
            diz:
-          “O sal que rebente
                           no cristal
        Tal como quis!”

Que isto se diga, não importa...
(o que importa é o que vai por dentro)
-          Não voltei à porta do Cristo
       nisto não arrisco o meu petisco!
San Francisco
      deita o isco
      ao marisco deita
      e não deita mal!

Vá ver o quintal
Do Quim
E – que tal ‘ –
- Que sim, que sim,
diz o pasquim
Astral...

Por fim, sem mal
vos dei o talismã
da mamã,
não vim de cal,
         não!
        de...
        Portugal
Por Túgal,
Para vento
Tentúgal
atento,
solúvel,
pregá-lo-
ei  em Vigo
....Se vi,
           digo,
... Se não,

           deixá-lo!

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* EXTRAÍDO DE «TRANSFIGURAÇÕES», RECOLHA INÉDITA DE POEMAS (1985-1986)


sábado, 21 de janeiro de 2017

NASCIMENTO DA SINFONIA ROMÂNTICA

Eroica - Philippe Herreweghe - Full concert in HD



A Sinfonia nº3 em Si bemol Maior Op. 55, a famosa Eróica, foi estreada em Viena a 7 de Abril de 1805, sob a direção do compositor. Foi um momento de viragem de primeira importância dentro da história da música, não apenas da vida pessoal de Beethoven.
A história da dedicatória da obra, já é em si mesma, uma HISTÓRIA LENDÁRIA, SIMBÓLICA. Beethoven inicialmente dedicou a sinfonia a Bonaparte, mas quando este tomou a coroa imperial, deitando por terra as esperanças democráticas do compositor, este decidiu substituir a dedicatória incial por algo não explícito, «em memória de um grande homem».
A escolha do termo «eróica» não aponta para uma inovação fundamental. Porém, hoje em dia, se esta sinfonia é celebrada, deve-se sobretudo ao sentido «heróico» do próprio compositor, refletido dos vigorosos ritmos e na intensa originalidade da orquestração. 
Sem dúvida, tornou-se ela um «clássico»; porém, na sua época, esta sinfonia foi vista como uma coisa horrível, intragável, pela crítica contemporânea. 
Foi, bem vistas as coisas, uma revolução na música, no sentido de que, desde então, começou-se a compor para a posteridade e não apenas para o instante.


Abaixo, um link para um excelente filme sobre Beethoven e a Eroica: