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sábado, 18 de julho de 2020

VALENTINA LISITSA: Sonata «Patética» de Beethoven

                                          https://www.youtube.com/watch?v=fEn339bmHuI

Sonata nº8 em Dó menor, Op. 13. «Patética»

Esta sonata de Beethoven, uma das minhas preferidas, soa-me como sendo a peça musical mais adequada, não apenas ao meu estado interior presente, como ao exterior, a tudo o que se passa neste mundo de hoje.
Por isso, escolho sempre os melhores interpretes, como Valentina Lisitsa, para usufruir plenamente da poesia heróica (a poesia do romantismo ascendente) que se desprende das sonatas de Beethoven.
- Um portento, que à distância de mais de dois séculos, consegue veicular-nos a sua energia, através de frases e acordes musicais. Quanto à interpretação de Lisitsa, creio que - além de tecnicamente perfeita - revela uma profunda compreensão de todos os aspectos da obra, numa lição de sobriedade e grandeza!

quinta-feira, 21 de março de 2019

MESTRE DOMENICO SCARLATTI COMPÔS...

A MÚSICA SUBLIME PRECISA DOS MELHORES INTERPRETES

                   K 27 - Sonata in B minor                                   Harpsichord: Scott Ross



                   K466 - Sonata F minor

                   Piano: Yuja Wang



                                         

                   K11 - Sonata C minor 

                   Guitar: Andres Segovia

                                          

domingo, 31 de julho de 2016

[NO PAÍS DOS SONHOS] CARLOS SEIXAS AOS QUATORZE ANOS




Deslocava-me por vielas esconsas e desertas, não sabendo muito bem em que sítio me encontrava, se nos velhos bairros de Lisboa, se nos de Setúbal ou mesmo de Coimbra. 
Eis senão quando encontro um frade, com o seu hábito de burel e o rosto totalmente na sombra do capuz. 
Perguntei-lhe, naturalmente, onde me encontrava. Ele olhou para mim e, espantado, disse-me: 

- «Está na presença de José António de Seixas»  

Retirou o capuz, deixando ver um rosto trigueiro, quase infantil na sua extrema juventude. 
Mal me recompus do choque, pegou-me gentilmente pela mão e disse-me em voz sussurrada: 

- «Quer ver um espetáculo único, exclusivo e delicioso?»

Não sabia o que responder, então apertei-lhe a mão, em sinal de assentimento... Mais perdido do que já estava, era realmente difícil, naqueles tempos...

Arrastou-me o jovem Seixas ao portal de uma casa apalaçada de imponente fachada. Logo dois criados em libré abriram as pesadas portas de madeiro, para deixar-nos passar. O músico era, com certeza, esperado. 
Este, sempre braço-dado comigo, subiu a majestática escadaria, iluminada por tochas, sustentadas por estátuas de escravos negros profusamente policromadas. 
- Mas onde me encontrava eu, agora? Não sabia. Continuava a não ter a mínima ideia, embora já tivesse percebido que se tratava de Lisboa... Mas de uma Lisboa do início do século XVIII. 

Nisto, o jovem que aqui me trouxera abriu uma porta de duplo batente, com brasões e relevos em talha dourada, revelando um salão onde várias damas e senhores, sentados, conversavam e pigarreavam rapé. 
Assim que viram o jovem, aplaudiram-no efusivamente, dando vivas e palavras simpáticas de encorajamento. 
Este fez uma vénia galante, apesar de ser um jovem frade. 

Sem demoras, pôs-se ao cravo, um instrumento de um só teclado. Ele tangia o singelo instrumento, como se acariciasse o dorso de um belo animal; tirava dele sons subtis ou arrojados, com a maior naturalidade, como quem conversa. 
Ele improvisava como se as teclas e cordas fossem os seus próprios instrumentos fonadores, ou seja, cantava com os dedos.

Após cerca de meia hora parou a exibição virtuosistica do jovem e  um senhor muito bem arranjado e empoado - provavelmente o dono da casa - apresentou aos presentes um nobre cavaleiro, de porte majestático, austero:

- «Il Signore Domenico Scarlatti»

Este fez uma breve reverência dirigindo-se sem hesitação ao fradinho que se erguera entretanto e o olhava com um misto de adoração e de terror.

- «Não temas, Caro...cuidarei que tu faças parte da Capela de sua Alteza el Rei Dom João. Ainda ontem, ele me pediu se eu conhecia em Napoli um bom e talentoso organista... Eu repliquei: Pois tem Vossa Majestade quem muito bem o sirva no Seu próprio Reino». 


Não recordo mais nada desta memorável cena. Talvez eles tenham jogado uma partida de cartas, bebendo um vinho do Porto e cavaqueando, até muito tarde.